quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Hora do folhetim - 38

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Tinham-se mantido silenciosos durante todo o dia, uma vez que o voo a tão grande altitude exigia todas as energias de que dispunham. Mas agora, ao conduzir a fêmea descendo a pique entre paredes de nuvens, o maçaricão gritava, excitado. O pequeno buraco alargou-se e o ar assobiava à sua volta. Voavam em glissagens laterais, para reduzir a velocidade de descida. A princípio o ar era tão rarefeito que não podiam travar com as asas. Quase não tinham controle sobre si, e despenhavam-se de encontro ao solo. Mas o ar tornou-se mais denso, forneceu resistência às asas, e começaram a descer mais lentamente. A pressão mudava tão abruptamente que causava dores nos ouvidos. Depois de passarem a camada de nuvens, nivelaram o voo e dirigiram-se para o Pacífico, que viam no horizonte, como uma leve linha azul.
Em dois ou três minutos tinham chegado com uma rapidez dramática a regiões muito diferentes do ermo gelado e claro de há pouco. Voavam ainda tão alto que só podiam distinguir contornos difusos. Muito embora, a terra era de novo sua. Lá em baixo havia solo e pedras e plantas, não já o nada aéreo das nuvens. Aqui o céu era opaco, não havia sol nem qualquer luz brilhava, mas a atmosfera era quente. E sentia-se o ar de novo. Ele tinha de novo substância, dava às asas força e impulso e enchia os pulmões, sem que, ao expirar, eles sofressem de dolorosa dispneia.
Apressadamente continuaram em frente, seguindo o terreno que caía a pique. Poisaram, já tarde avançada, numa estreita faixa de praia, no Pacífico. Durante alguns minutos beberam sofregamente água salgada. Depois comeram, até escurecer.
Ao crepúsculo clareou um pouco, e os grandes cones vulcânicos dos Andes desenhavam-se cruamente a leste, no céu cinzento, ganhando um ímpeto e uma força aterradores. Todos os anos o instinto do maçaricão o conduzia sobre esta poderosa barreira de calcário, de tempestades e de neve. E todos os anos ele lançava um olhar para trás, antes que a lembrança se lhe apagasse. Por mais lento de raciocínio que fosse o seu cérebro, ficava sempre espantado com a resistência das asas.

O CORREDOR DA MORTE

A comissão de protecção das aves receia que tenham de ser colocadas na lista dos animais ameaçados de extinção as seguintes espécies: o condor californiano ( em 1939 já não existiam sequer 50 exemplares), o bico-de-marfim (são conhecidas menos de 30 aves), o maçaricão-esquimó (efectivo desconhecido, caso ainda exista)...
Não temos disponível nenhuma outra informação sobre o maçaricão-esquimó. É perfeitamente possível que esta ave esteja extinta. Mas os relatos esporádicos de que dispomos, relativos aos últimos dez anos, deixam a esperança de que ele tenha sido casualmente avistado por alguns observadores. Apesar disso parece-nos aconselhável que a Liga Americana de Ornitólogos estabeleça ligação, seja na Argentina ou noutras repúblicas sul-americanas, com organizações ou pessoas individuais que estejam em condições de efectuar novas pesquisas. No caso de serem detectados maçaricões-esquimós que passam o inverno na Argentina, poderiam ser tomadas medidas que lhes garantam uma melhor protecção, seja através da direcção do Parque Nacional Argentino, seja de qualquer outro modo...

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Planeta-Mãe - 27

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A FRANÇA TINHA NECESSIDADE DE BRAÇOS
Antes da 2ª Guerra Mundial, a principal actividade do país era uma actividade vital: alimentar-se e alimentar os outros.
Mesmo se a migração para as cidades tinha começado no início do séc. XX, a população era ainda maioritariamente camponesa em 1938. Como todos os países, a França servia-se desta população camponesa, para responder a todos os desafios da Nação. Mas desta vez não era questão de lançar uma ordem de mobilização, como tinha acontecido em todas as guerras. A carne dos camponeses tinha alimentado canhões bastantes. Não era questão de voltar a tocar o eterno ritornello do orgulho nacional e do amor à Pátria, para convencer os camponeses a deixar as suas terras e famílias.
Como levar milhões de camponeses tradicionais a abandonar as suas quintas ancestrais? Como convencê-los a migrar para as cidades industriais e mineiras? Como empurrá-los dos campos para as oficinas, da terra para as máquinas? Como fazer aceitar a ideia de se deixar alimentar por outros, a pessoas que sempre se alimentaram a si próprias? O recurso à imigração, só por si, não podia preencher o deficit de mão-de-obra. O governo da época tinha assim que encontrar resposta a estas questões.
Fazer mudar mentalidades a este ponto não era o menor dos desafios políticos do pós-guerra. Ultrapassar este desafio implicava vencer um outro: Produzir mais alimentos com menos mão-de-obra!
Diminuindo o número de camponeses, iria evoluir radicalmente a relação entre o número de pessoas produtoras de alimentos e aquelas que se deixam alimentar. Para fazer face a esta revolução da sociedade, deviam ser consideravelmente melhorados os rendimentos agrícolas. Para isso, a agricultura tinha que viver uma revolução. E esta revolução agrícola também tinha sido planificada pelo plano Marshall.
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