sábado, 31 de julho de 2010

Hora do folhetim - 32

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O macho alimentou a fêmea, apresentou-se como companheiro e a fêmea aceitou-o. E assim começou o jogo nupcial. Nenhum deles mostrara qualquer excitação exterior, qualquer alegria exibicionista. O macho deu o caracol à fêmea, esta recebeu-o, o casamento estava selado.
Agora cada um procurava alimento para si próprio, sem prestarem atenção um ao outro, embora se mantivessem próximos. E, como nunca antes, o macho sentia-se atraído pelo montão de pedras, junto à curva do rio, na tundra distante.
Quando chegou o crepúsculo levantou voo, circulou sobre a fêmea e chamou-a. Ela lançou-se para o ar, e juntos voaram para o interior, sobre as elevações que bordejavam a costa. Depois do escurecer poisaram numa encosta coberta de ervas e dormiram um junto do outro, os pescoços quase se tocando. O macho sentia-se renascer, uma outra vida tinha começado.
Ao romper do dia regressaram à praia. Depois voaram mais rapidamente para norte, cerca de quinze quilómetros em cada etapa. De vez em quando faziam pausas para comer, mas a tundra chamava cada vez mais fortemente. Cada dia que passava voavam mais longe e comiam menos do que na véspera.
No princípio de Fevereiro estavam já a 1600 quilómetros do ponto de partida. E como sempre, na sua viagem para norte, paravam nos charcos à beira-mar. Era primavera, e as gónadas produziam cada vez mais hormonas sexuais, que lentamente faziam crescer a sua excitação. Muitas vezes o macho interrompia bruscamente a busca de alimento, e pavoneava-se em frente da fêmea como um galo de combate, com a plumagem do pescoço tufada e as penas da cauda emplumadas em leque sobre o dorso. Aí a fêmea inclinava-se com as asas frementes, e pedia comida como se fosse um pintaínho. O macho oferecia-lhe um petisco, os seus bicos tocavam-se, e com isso terminava o jogo nupcial.
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Planeta-Mãe - 21

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MODO DE VIDA E MODELO ECONÓMICO
Esta lista de fenómenos explicativos do aumento da procura nos mercados mundiais de alimentos não é exaustiva. Mais ainda do que as razões da baixa de produção, ela revela que as tendências em curso partilham com ela a mesma causa fundamental: o nosso modo de vida ocidental e as necessidades que daí decorrem.
Resolver o problema da fome no mundo, e evitar que um dia nos atinja, passa necessariamente por pôr em causa o nosso modo de vida, os nossos valores, o nosso modelo sócio-económico. Os números da fome no mundo, nas últimas décadas, acompanharam os números da obesidade nos países desenvolvidos. E muito antes de viver uma situação de penúria, a subida de preços dos produtos alimentares bem pode conhecer uma amplitude e uma brutalidade que temos hoje dificuldade em imaginar. Vários factores alimentam a volatilidade dos preços…

OUTROS FACTORES QUE INFLUENCIAM OS PREÇOS

Para além dos riscos de escassez, há outros parâmetros que pesam sobre os preços dos produtos alimentares nos mercados mundiais. Além do seu preço ligado ao modo de produção, os factores económicos e políticos são igualmente determinantes.

Uma agricultura dependente do petróleo

São necessárias 3 toneladas de petróleo para produzir uma tonelada de adubo azotado. São necessários 3 litros de petróleo para produzir uma salada cultivada em estufa aquecida. O mesmo para um quilo de tomate. Sete litros de petróleo são consumidos para obter um quilo de carne, etc.
Duma forma geral, a agricultura intensiva consome entre 5 e 10 kilojoules de energia-petróleo para produzir 3 kilojoules alimentares. Neste modo de produção, quando os preços da energia sobem, os dos alimentos seguem atrás.
A subida dos preços dos produtos alimentares, constatada desde o início dos anos 2000, estava em parte ligada a este fenómeno. Era a lei da oferta e da procura no mercado do petróleo que fazia subir os preços dos alimentos. A especulação em alta sobre o preço do barril de petróleo intensificou-se a partir do fim do ano de 2007, ao mesmo tempo que se aplicou às matérias-primas e aos produtos agrícolas.
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domingo, 25 de julho de 2010

Horta

Os bons ofícios da Junta de Freguesia permitiram limpar e desassorear a área circundante da horta da Associação.
Na vala desagua uma pequena linha de água, cuja boca é visível na imagem, e que em tempos de mais chuva agrava as tendências de encharcamento, provocado pela subida do nível do Rio Seco.
O trabalho feito facilita a drenagem e era indispensável. Pena só que alguma descoordenação não tenha permitido instalar desde já as manilhas no acesso ao portal, para a entrada de máquinas na horta. Mas elas hão-de vir.
Porque é preciso cortar aqueles fenos, ensaiar com eles os primeiros passos na compostagem, decruar o solo que há 20 anos anda cru, e ir preparando a terra para os trabalhos da primavera.
Para o ano a horta da Rio Vivo há-de produzir, há-de brindar-nos com as suas primícias. Com a sabedoria do Falcão, e a mão de obra que não faltará.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Um mundo feito à mão-20

Vulcano era o ferreiro dos infernos e marido de Vénus.
E forjou o escudo mítico de Aquiles, o invencível de Troia que um calcanhar traiu.
A estes dois Vulcanos de S. Pedro, cabe apenas aguçar os ferros do próximo torneio.
[Os dois deuses são do horário de verão; ao horário de inverno correspondem Hefesto e Afrodite]

Um mundo feito à mão-19

O homem do vale do Mondego.
Granito rosa de António Oliveira.
Património da RIO VIVO

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um mundo feito à mão-18

Os jovens de hoje (...) poucos sabem o trabalho e as voltas que dá um grão de trigo antes de se transformar numa fatia de pão.
[in Recordações, José Queirós]

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Às armas!

A primeira obrigação, a tarefa mais urgente de todos os sócios da RIO VIVO, caso possam estar presentes, é procederem à sua inscrição no 1º Congresso.
Podem fazê-lo por telefone (961 281 773/outro de que disponham) ou através do mail a.rio.vivo@gmail.com.
Não falo, obviamente, daqueles associados que já assumiram funções a desempenhar, porque esse facto os inscreve. É aos restantes que a coisa diz respeito.
Entenderão que toda a logística depende do número de presenças. É importante sabê-lo tão cedo quanto possível.
Dois sócios dois, já o fizeram, honra seja feita ao bom exemplo!
Quanto ao resto, entre amigos e fãs e curiosos, já se inscreveram catorze!
É o carro a andar à frente dos bois, imagem curiosa mas pouco edificante!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Hora do folhetim - 31

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8
A chegada da fêmea foi um ponto culminante estranhamente pálido e desdramatizado, depois de uma vida de eterna espera. O maçaricão estava no meio de algumas tarambolas, junto à água, e procurava alimento. De repente a fêmea estava ali! Tinha poisado a menos de um metro de distância, e ele podia observar-lhe cada pena da plumagem. Chegara com mais nove tarambolas. Silenciosamente tinham-se deixado planar sem que ninguém as notasse, salvo uma tarambola que se mantinha alerta às aves de rapina, enquanto as outras comiam. A fêmea fechou vagarosamente as asas, num movimento mais gracioso que o das companheiras. E voltou para ele o longo bico recurvado.
Ela pulou então sobre as altas pernas esverdeadas, e um gorgeio suave saiu-lhe da garganta. Ele pôs-se também aos pulos e respondeu baixinho.
Reconheceram-se sem reflectir, num súbito processo intuitivo. O macho sabia que se tinha enganado muitas vezes, sabia que os maçaricões-norte-americanos, confusamente parecidos, passavam o inverno muito mais a norte, no mar das Caraíbas. Aqui, no sul profundo, ele só podia encontrar maçaricões da sua espécie. Este era mais pequeno do que os outros, e de um castanho mais claro, tal como ele próprio. Na verdade, os seus pensamentos eram fugidios e quase informes. Mas a voz, a atitude, os movimentos da outra ave, mais do que o seu aspecto, disseram-lhe imediatamente que a sua fêmea chegara.
Ele nunca tinha visto um companheiro da espécie, e a fêmea provavelmente também não. Ambos tinham procurado, na América do Norte e do Sul, sem saberem exactamente o quê. Mas, logo que o acaso os juntou, o instinto velho de gerações permitiu, sem qualquer dúvida, que se reconhecessem, uma vez que o maçaricão tinha sido uma das aves mais difundidas em toda a América.
Durante um minuto ficaram ali imóveis, espreitando-se e saltitando. O macho estava excitado de contentamento. Finalmente podia calar o seu desejo da fêmea, que durante a vida inteira fora surgindo e desaparecendo, sem nunca ter sido satisfeito. Um pequeno caracol rastejava à sua frente, na água baixa. O maçaricão partiu-lhe a casca com uma bicada, mas não o comeu. Com o pescoço esticado e a plumagem tufada pavoneava-se em frente da fêmea. Constrangido e algo desajeitado, chegou-se junto dela e ofereceu-lho. A fêmea, com as asas um pouco abertas e todo o corpo a tremer, aproximou-se dele. Picou o caracol e engoliu-o de imediato.
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Planeta-Mãe - 20

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O AUMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL

Um relatório da FAO evidenciou em 2007 que o desenvolvimento da agricultura tradicional permitiria alimentar, em quantidade e qualidade, toda a população planetária. Além do mais, esta reconversão daria trabalho a milhões de pessoas, hoje desocupadas e miseráveis.
Dar às populações os meios para reconquistarem a soberania alimentar, traria às pessoas um elemento essencial que elas não podem encontrar enquanto dependentes da caridade mundial: a sua dignidade.
No quadro dum regime alimentar adaptado, usando técnicas de cultura agro-ecológicas, uma família de 4 pessoas pode ser auto-suficiente alimentarmente com um hectare de terra arável. Isso representa um quarto de hectare por habitante, havendo 2,3 à escala planetária. Temos 30 milhões de hectares de terra arável em França, o que perfaz meio hectare por habitante.
Do ponto de vista da natureza, se ela tivesse que fazer justiça pelas suas próprias mãos, começaria por erradicar os 20% de humanos responsáveis por 80% das destruições, pilhagens e poluições: NÓS, que nos permitimos afirmar que “somos demasiado numerosos”.

sábado, 10 de julho de 2010

Andorinha dáurica

Está ali pendurado no tecto duma pequena caverna de S. Pedro.
E não há predador que lhe chegue!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

1º Congresso da Associação RIO VIVO

Tema: “À descoberta das nascentes”
Data: 7 e 8 de Agosto de 2010
Local: Pavilhão Multiusos de S. Pedro do Rio Seco


Programa

Primeiro dia: Sábado, dia 7 de Agosto

10.00: Recepção dos congressistas
10.30: Sessão de abertura
11.00: Palestra de abertura: Jorge Carvalheira
11.30: Pausa para café
11.45: A fauna e a flora da zona raiana: Amândio Caldeira
12.15: A solidariedade na terceira idade em zonas envelhecidas: Manuel Alcino Fernandes
12.45: Debate e encerramento

Almoço. “Buffet”a cargo da Associação

15.00: A história de S. Pedro do Rio Seco: José da Fonseca Ramos
15.30: Algumas tradições das fainas do campo: António André
16.00: Pausa para café
16.30: O que é a “transição”: Maria José Dinis da Fonseca, Presidente da ASTA
17.00: A experiência do Prémio Riba-Côa 2009: Filipe Vilhena
17.30: Debate e encerramento
20.00: Sardinhada e festa popular com concertina/acordeão.

Segundo dia: Domingo, dia 8 de Agosto

09:30: Passeio ao campo com visita às sepulturas na rocha
09.30: Início do percurso de BTT: Rota dos passadores
10.30:Torneio do Jogo do Ferro, com prémios aliciantes

13.00: Almoço sujeito a inscrição prévia (10,00 €)

15.00: Exposição de Fotografia: S. Pedro do Rio Seco de outros tempos
17.00: Recepção e boas-vindas a entidades
17.30: Palestra: Tempos de Mudança: Luís Queirós, presidente da Associação
18.00: Encerramento com actuação do Coro de Almeida

Contactos e inscrições
Inscrições a enviar para: a.rio.vio@gmail.com
Ou para Associação Rio Vivo – Casa do Quartel
6355-160 S. Pedro do Rio Seco
Pf. Indicar:
• Nome
• E-mail
• Telefone
• Inscrição para almoço do dia 8, se desejado

Preço das inscrições no congresso:
• Naturais de S. Pedro e familiares: grátis
• Associados Rio Vivo: grátis
• Assinantes do “Alto da Raia”: grátis
• Fãs do “Rio Vivo” no FaceBook: grátis
• Restantes congressistas: 5 Euros, a pagar no local

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Hora do folhetim - 30

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E o maçaricão pôs-se a caminho de casa. Seguia de charco em charco e não fazia grandes trajectos. A indecisão tinha passado. Voava sempre para o norte. Também as outras narcejas sentiam o mesmo, estavam sempre em movimento. O número e a espécie das aves nos charcos mudava de hora a hora. Uma semana depois o maçaricão encontrava-se a trezentos quilómetros mais a norte.

O CORREDOR DA MORTE

Em anexo ao relatório anual do Instituto Smithsoniano, deve acrescentar-se algo sobre determinadas descobertas científicas. As participações vêm de colaboradores da casa...
O maçaricão-esquimó e o seu desaparecimento (reedição, revista pelo autor, Myron H. Swenk, dos debates da Sociedade Ornitológica do Nebraska, de 27 de Fevereiro de 1915).

Todos os ornitólogos informados concordam entretanto que o maçaricão-esquimó (Numenius borealis) está ameaçado de extinção. Muitos acreditam mesmo que as poucas aves que ainda existem não são suficientes para a renovação dos efectivos. Consideram-no como uma espécie que pertence praticamente ao passado. Se partirmos de situações análogas, parece legítimo este pessimismo. Talvez a história do maçaricão-esquimó, parecida com a do pombo-torcaz, constitua mais uma daquelas tragédias ornitológicas que sucederam na segunda metade do séc. XIX. Devido aos abates incontrolados e irracionais, reduziram-se os efectivos norte-americanos de aves. Várias espécies largamente difundidas, como se vê pelos gigantescos bandos, foram quase, se não totalmente, aniquiladas...

A comissão de defesa das aves submete à reunião ordinária de membros da Liga Ornitológica Americana os resultados da sua pesquisa no ano de 1939, relativos à destruição, ou antes, à conservação do mundo ornitológico nacional...
Mas particularmente ameaçados estão, sem dúvida, o condor californiano, o maçaricão-esquimó e o bico-de-marfim. Os efectivos reduziram-se tão drásticamente que os indivíduos sobreviventes se mantêm separados uns dos outros. Facto que, por sua vez, põe em causa a reprodução...