sexta-feira, 4 de março de 2011

Planeta-Mãe - 39

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Conquista de terras estrangeiras

Desde há alguns anos, a estratégia de conquista de terras cultiváveis nos países pobres tem conhecido um desenvolvimento vertiginoso. Numerosos países “ricos”, mas incapazes de prover as suas necessidades alimentares, fazem mão baixa das terras agrícolas dos países mais desprovidos, à custa de dólares.
Esta estratégia neo-colonialista não é nova. Começou a desenvolver-se no tempo colonial com as culturas do algodão, do açúcar, do café, do cacau. Se mudou a forma política e comercial, com a emancipação das colónias, o fundo manteve-se igual e continuou a desenvolver-se. As crescentes necessidades de forragens para o gado acentuaram esta tendência há uma dezena de anos, sobretudo através do desenvolvimento das culturas deslocalizadas de soja e milho. Este imperialismo agrícola conheceu nova aceleração com a decisão dos países ocidentais desenvolverem os agrocombustíveis. Com o agravamento da crise alimentar mundial, no início de 2008, a pressão dos países ricos sobre as terras dos países pobres cresceu ainda mais. Para alguns estados, trata-se agora de eternizar os seus aprovisionamentos em recursos alimentares.
Se os dirigentes dos países pobres obtêm muitas vezes vantagens pessoais nestas operações, esse não é o caso das populações locais. Os exemplos de dirigentes africanos, donos de pequenos castelos nas margens do lago Léman, do lado suíço onde estão domiciliadas as suas contas bancárias, são bem representativos das consequências desta vertente neo-colonialista ocidental, em relação aos países em vias de desenvolvimento. Em boa parte, estas fortunas constroem-se graças ao dinheiro dos contribuintes ocidentais, entregue sob a forma de ajuda humanitária aos países mais desfavorecidos. É forçoso constatar que uma parte destas ajudas é muitas vezes desviada para o bolso de certos dirigentes de regimes mais ou menos ditatoriais, pouco escrupulosos e mafiosos. Nós vemos, sabemos, mas toleramos. Porquê?! Porque subornar estes dirigentes é muitas vezes uma condição prévia para a abertura destes países às nossas actividades agrícolas, comerciais ou industriais. Estes países não são apenas excelentes fornecedores de recursos naturais baratos, são também excelentes clientes: os regimes totalitários compram-nos armas, know-how tecnológico… e até alimentos cultivados nas nossas estufas aquecidas. É tudo benefício!
Um exemplo recente ilustra bem este fenómeno. Enquanto a maioria da sua população luta todos os dias contra a miséria e a fome, o presidente de Madagascar ofereceu a si próprio, em 2008, um jacto privado, por 40 milhões de dólares. Nesse mesmo ano, ele assinou importantes contratos de venda de milhões de hectares de terras cultiváveis aos países desenvolvidos, especialmente à Coreia. (…)
Em Madagascar, milhares de pequenos camponeses foram espoliados das suas terras. Alguns tornaram-se assalariados das multinacionais agro-alimentares, produzindo alimentos baratos destinados à exportação para os países desenvolvidos. Outros camponeses que não foram recrutados para esta nova tarefa partiram, a engrossar as filas de população dos bairros de lata. Estes excluídos vivem essencialmente da mendicidade. As crianças aprendem a alimentar-se nas lixeiras.
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