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ALIMENTAR OS LUCROS
Alimentar as populações é uma actividade lucrativa e durável: sejam quais forem as evoluções futuras, o Ser Humano tem que continuar a alimentar-se para viver. Assim, produzir e distribuir alimentos tornou-se um meio de alimentar os lucros. Toda a organização da cadeia alimentar actual é marcada por esta lógica.
ECONOMIAS DE ESCALA
Tornar-se sempre maior e mais forte é um meio de assumir uma posição de força sobre os mercados. Seja para comprar matérias-primas mais baratas, ou para vender os produtos acabados o mais caro possível, esta estratégia tem uma lógica económica.
Na selva capitalista, onde imperam o instinto predatório e a lei do mais forte, a globalização responde igualmente a uma outra necessidade: reduzir o número de concorrentes, para obter uma posição dominante no mercado mundial. No fim só pode restar um! Se se tratasse aqui dum jogo de sociedade, haveria matéria para rir. Porém hoje é o funcionamento da nossa cadeia alimentar que foi moldada por esta lei da selva. A Vida e a Natureza ensinam-nos que nenhuma entidade é viável sozinha. Mas os actores da economia mundial parece que não conhecem esta regra.
Hoje, a sobrevivência alimentar de mais de 90% da população ocidental está nas mãos de gigantes da economia mundial e liberal: as multinacionais da agro-química, do agro-alimentar e da grande distribuição.
A poder de fusões, aquisições e outras OPA’s, a indústria agro-alimentar tornou-se um sector de actividade maior, em França e no mundo. Algumas multinacionais repartem este sumarento mercado mundial. Os accionistas de Danone, Nestlé e Kraftfood têm bons dividendos atrás deles, e à sua frente.
A lei do mais forte, as deslocalizações, a política da compra em baixa, as recompras selvagens para desmantelamento, são outras tantas práticas que fazem furor no sector há alguns anos. Como todos os sectores submetidos às leis do mercado capitalista, o sector do agro-alimentar está impregnado do medo de ser engolido, do desejo de engolir o outro e da busca perpétua de melhores lucros.
É neste contexto que as confeitarias LU, recompradas pelo grupo Danone há uns anos, se tornaram americanas em 2007. Os empregados das duas últimas fábricas francesas temem ver o seu lugar fechado para deslocalização para países “low cost”. Resposta da nova direcção: a questão não tem actualidade! A actualidade do mundo dos negócios mostra que aquilo que não está na ordem dum dia, pode muito bem passar depressa à ordem do dia seguinte.
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sábado, 15 de janeiro de 2011
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Hora do folhetim - 41
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O sol caiu para oeste. Ele estava de tal modo enfraquecido que nem a mais tenaz força de vontade lhe permitia já bater as asas tão depressa como até aqui. Mas manteve-se à frente. As suas batidas abrandaram, a velocidade diminuiu. A fêmea notou-o, e agora, depois de vinte e quatro horas de silêncio, enviou-lhe suaves e garganteados gorgeios de ternura. Isso deu-lhe mais força do que o alimento ou o descanso. Ela repetiu o gesto muitas vezes. O sol estava um pouco acima do horizonte, o mar resplandecia, doirado, como uma pedra preciosa, e as asas dele transportavam-nos, incansáveis.
Estava o sol a pôr-se quando algo azul escuro, fino e vaporoso, apareceu no horizonte, sobre o azul claro do mar. Durante alguns minutos pareceu uma nuvem. Depois ganhou mais consistência, tornou-se numa faixa de costa, e finalmente surgiram lá atrás os contornos denteados das montanhas da Guatemala e das Honduras. Os cumes vulcânicos longínquos sobressaíam claramente. A mancha azul, junto ao mar, tornou-se verde, e onde ela terminava apareceu a faixa branca da rebentação. Quando os maçaricões atingiram a praia orlada de palmeiras, dispunham ainda de meia hora de claridade e começaram logo a comer. Ao chegar a escuridão, já a tortura da fome e do esgotamento diminuía.
Durante toda a manhã seguinte trataram de se alimentar. Mas não havia muita comida, pois a praia era estreita e fora varrida pela rebentação. Ao meio dia, apesar do enorme calor, as aves prosseguiram o voo. Agora dirigiam-se terra adentro, pois era verão na América Central, e as pradarias altas fervilhavam de gafanhotos. Voavam sobre a zona costeira, que subia lentamente até às montanhas. O solo vulcânico, escuro e fértil, produzia frutos exuberantes, cocos, bananas e cana sacarina. Uma hora depois estavam a 1500 metros acima do nível do mar, e chegaram a uma zona mais temperada, com ar frio e seco. Continuaram a subir, avançaram para as montanhas e alcançaram um estreito vale que conduzia a um planalto mais elevado.
Voaram durante quatro horas. Finalmente poisaram trezentos quilómetros para o interior, num planalto acidentado. Aqui juntaram-se pela primeira vez a outras aves de arribação, que iam ao encontro da primavera na América do Norte. Bandos inteiros de tangarás, tordos e piscos procuravam alimento afanosamente, nos vales arborizados. Tinham que acumular energias para os longos voos nocturnos. Nas altas pradarias, os maçaricões encontravam bandos de narcejas e de estorninhos. Mas não se ouvia qualquer cantar. Isso só aconteceria na reserva de criação, e, para a maior parte deles, ela distava ainda mais de três mil quilómetros.
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O sol caiu para oeste. Ele estava de tal modo enfraquecido que nem a mais tenaz força de vontade lhe permitia já bater as asas tão depressa como até aqui. Mas manteve-se à frente. As suas batidas abrandaram, a velocidade diminuiu. A fêmea notou-o, e agora, depois de vinte e quatro horas de silêncio, enviou-lhe suaves e garganteados gorgeios de ternura. Isso deu-lhe mais força do que o alimento ou o descanso. Ela repetiu o gesto muitas vezes. O sol estava um pouco acima do horizonte, o mar resplandecia, doirado, como uma pedra preciosa, e as asas dele transportavam-nos, incansáveis.
Estava o sol a pôr-se quando algo azul escuro, fino e vaporoso, apareceu no horizonte, sobre o azul claro do mar. Durante alguns minutos pareceu uma nuvem. Depois ganhou mais consistência, tornou-se numa faixa de costa, e finalmente surgiram lá atrás os contornos denteados das montanhas da Guatemala e das Honduras. Os cumes vulcânicos longínquos sobressaíam claramente. A mancha azul, junto ao mar, tornou-se verde, e onde ela terminava apareceu a faixa branca da rebentação. Quando os maçaricões atingiram a praia orlada de palmeiras, dispunham ainda de meia hora de claridade e começaram logo a comer. Ao chegar a escuridão, já a tortura da fome e do esgotamento diminuía.
Durante toda a manhã seguinte trataram de se alimentar. Mas não havia muita comida, pois a praia era estreita e fora varrida pela rebentação. Ao meio dia, apesar do enorme calor, as aves prosseguiram o voo. Agora dirigiam-se terra adentro, pois era verão na América Central, e as pradarias altas fervilhavam de gafanhotos. Voavam sobre a zona costeira, que subia lentamente até às montanhas. O solo vulcânico, escuro e fértil, produzia frutos exuberantes, cocos, bananas e cana sacarina. Uma hora depois estavam a 1500 metros acima do nível do mar, e chegaram a uma zona mais temperada, com ar frio e seco. Continuaram a subir, avançaram para as montanhas e alcançaram um estreito vale que conduzia a um planalto mais elevado.
Voaram durante quatro horas. Finalmente poisaram trezentos quilómetros para o interior, num planalto acidentado. Aqui juntaram-se pela primeira vez a outras aves de arribação, que iam ao encontro da primavera na América do Norte. Bandos inteiros de tangarás, tordos e piscos procuravam alimento afanosamente, nos vales arborizados. Tinham que acumular energias para os longos voos nocturnos. Nas altas pradarias, os maçaricões encontravam bandos de narcejas e de estorninhos. Mas não se ouvia qualquer cantar. Isso só aconteceria na reserva de criação, e, para a maior parte deles, ela distava ainda mais de três mil quilómetros.
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Planeta-Mãe - 30
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REVOLUÇÃO VERDE?
Nos primeiros anos, a agricultura intensiva cumpriu as suas promessas. A melhoria de rendimentos por hectare foi fenomenal. A mecanização, as sementes seleccionadas e os tratamentos químicos permitiram colheitas abundantes, exigindo cada vez menos mão-de-obra. Deste ponto de vista, esta revolução agrícola foi um sucesso. Sem ela, a revolução industrial que se fez em paralelo não teria lugar. E o mundo em que vivemos hoje não poderia existir.
A história quis que o período fasto da revolução agrícola coincidisse com as horas de glória da sociedade industrial: os 30 anos gloriosos, os anos 60, o rock-and-roll, os dias felizes. Os novos equipamentos consolaram-nos de certas tarefas aviltantes. Quem renunciaria hoje à sua máquina de lavar roupa?
A escassez de mão-de-obra colocava os assalariados em posição de força, perante o patronato. Numerosos direitos e vantagens foram adquiridos nesta época. Não existia o medo do desemprego e da exclusão. Os jovens podiam olhar o futuro com confiança, mesmo se alguns aspiravam a outro modelo. Foi o caso de numerosos jovens nascidos depois da guerra, que no fim dos anos 60 recusaram o único modelo imposto. (…)
Nesses tempos não muito longínquos, a ciência e a tecnologia fizeram-nos crer que tudo era possível. A medicina avançava a passos largos, deixando planar a doce ideia de que um dia venceríamos a própria morte. Em 1958 os russos punham em órbita o Sputnik, o seu primeiro satélite. Quatro anos mais tarde Youri Gagarine era o primeiro homem no espaço. Alguns anos depois os americanos poisaram na lua.
As pesquisas agronómicas avançavam igualmente bem. A melhoria das espécies por hibridação acelerou-se, ao mesmo tempo que novas moléculas químicas apareciam todos os anos. A impressão de domínio dos processos da terra e dos ciclos do Vivo gerou um sentimento de soberania alimentar. Uma soberania enfim definitiva, permitindo classificar as penúrias alimentares e as fomes na lista das más lembranças medievas.
Este sucesso foi qualificado como “revolução verde”. O contexto histórico e o estado dos conhecimentos da época justificavam o título. Esta revolução permitiu às gerações do pós-guerra entregar-se plenamente às delícias materialistas e ilusórias da sociedade de consumo, sem se preocupar com a sobrevivência alimentar. Em apenas 3 gerações, para uma maioria de nós, tornou-se quase total a desconecção com a nossa terra alimentadora. Hoje 70% dos franceses vivem na cidade. Uma boa parte deles nasceu lá. A maior parte deles ignora como é que cresce aquilo que comem.
Desligados da terra que cultivam do alto dos seus tractores, os agricultores perderam igualmente o contacto com os consumidores que alimentam. Os interlocutores mudaram sensivelmente, ao mesmo tempo que a sua actividade era fagocitada pelo sistema capitalista. Alimentar as populações tornou-se um meio de alimentar os lucros…
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REVOLUÇÃO VERDE?
Nos primeiros anos, a agricultura intensiva cumpriu as suas promessas. A melhoria de rendimentos por hectare foi fenomenal. A mecanização, as sementes seleccionadas e os tratamentos químicos permitiram colheitas abundantes, exigindo cada vez menos mão-de-obra. Deste ponto de vista, esta revolução agrícola foi um sucesso. Sem ela, a revolução industrial que se fez em paralelo não teria lugar. E o mundo em que vivemos hoje não poderia existir.
A história quis que o período fasto da revolução agrícola coincidisse com as horas de glória da sociedade industrial: os 30 anos gloriosos, os anos 60, o rock-and-roll, os dias felizes. Os novos equipamentos consolaram-nos de certas tarefas aviltantes. Quem renunciaria hoje à sua máquina de lavar roupa?
A escassez de mão-de-obra colocava os assalariados em posição de força, perante o patronato. Numerosos direitos e vantagens foram adquiridos nesta época. Não existia o medo do desemprego e da exclusão. Os jovens podiam olhar o futuro com confiança, mesmo se alguns aspiravam a outro modelo. Foi o caso de numerosos jovens nascidos depois da guerra, que no fim dos anos 60 recusaram o único modelo imposto. (…)
Nesses tempos não muito longínquos, a ciência e a tecnologia fizeram-nos crer que tudo era possível. A medicina avançava a passos largos, deixando planar a doce ideia de que um dia venceríamos a própria morte. Em 1958 os russos punham em órbita o Sputnik, o seu primeiro satélite. Quatro anos mais tarde Youri Gagarine era o primeiro homem no espaço. Alguns anos depois os americanos poisaram na lua.
As pesquisas agronómicas avançavam igualmente bem. A melhoria das espécies por hibridação acelerou-se, ao mesmo tempo que novas moléculas químicas apareciam todos os anos. A impressão de domínio dos processos da terra e dos ciclos do Vivo gerou um sentimento de soberania alimentar. Uma soberania enfim definitiva, permitindo classificar as penúrias alimentares e as fomes na lista das más lembranças medievas.
Este sucesso foi qualificado como “revolução verde”. O contexto histórico e o estado dos conhecimentos da época justificavam o título. Esta revolução permitiu às gerações do pós-guerra entregar-se plenamente às delícias materialistas e ilusórias da sociedade de consumo, sem se preocupar com a sobrevivência alimentar. Em apenas 3 gerações, para uma maioria de nós, tornou-se quase total a desconecção com a nossa terra alimentadora. Hoje 70% dos franceses vivem na cidade. Uma boa parte deles nasceu lá. A maior parte deles ignora como é que cresce aquilo que comem.
Desligados da terra que cultivam do alto dos seus tractores, os agricultores perderam igualmente o contacto com os consumidores que alimentam. Os interlocutores mudaram sensivelmente, ao mesmo tempo que a sua actividade era fagocitada pelo sistema capitalista. Alimentar as populações tornou-se um meio de alimentar os lucros…
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