sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Hora do folhetim - 41

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O sol caiu para oeste. Ele estava de tal modo enfraquecido que nem a mais tenaz força de vontade lhe permitia já bater as asas tão depressa como até aqui. Mas manteve-se à frente. As suas batidas abrandaram, a velocidade diminuiu. A fêmea notou-o, e agora, depois de vinte e quatro horas de silêncio, enviou-lhe suaves e garganteados gorgeios de ternura. Isso deu-lhe mais força do que o alimento ou o descanso. Ela repetiu o gesto muitas vezes. O sol estava um pouco acima do horizonte, o mar resplandecia, doirado, como uma pedra preciosa, e as asas dele transportavam-nos, incansáveis.
Estava o sol a pôr-se quando algo azul escuro, fino e vaporoso, apareceu no horizonte, sobre o azul claro do mar. Durante alguns minutos pareceu uma nuvem. Depois ganhou mais consistência, tornou-se numa faixa de costa, e finalmente surgiram lá atrás os contornos denteados das montanhas da Guatemala e das Honduras. Os cumes vulcânicos longínquos sobressaíam claramente. A mancha azul, junto ao mar, tornou-se verde, e onde ela terminava apareceu a faixa branca da rebentação. Quando os maçaricões atingiram a praia orlada de palmeiras, dispunham ainda de meia hora de claridade e começaram logo a comer. Ao chegar a escuridão, já a tortura da fome e do esgotamento diminuía.
Durante toda a manhã seguinte trataram de se alimentar. Mas não havia muita comida, pois a praia era estreita e fora varrida pela rebentação. Ao meio dia, apesar do enorme calor, as aves prosseguiram o voo. Agora dirigiam-se terra adentro, pois era verão na América Central, e as pradarias altas fervilhavam de gafanhotos. Voavam sobre a zona costeira, que subia lentamente até às montanhas. O solo vulcânico, escuro e fértil, produzia frutos exuberantes, cocos, bananas e cana sacarina. Uma hora depois estavam a 1500 metros acima do nível do mar, e chegaram a uma zona mais temperada, com ar frio e seco. Continuaram a subir, avançaram para as montanhas e alcançaram um estreito vale que conduzia a um planalto mais elevado.
Voaram durante quatro horas. Finalmente poisaram trezentos quilómetros para o interior, num planalto acidentado. Aqui juntaram-se pela primeira vez a outras aves de arribação, que iam ao encontro da primavera na América do Norte. Bandos inteiros de tangarás, tordos e piscos procuravam alimento afanosamente, nos vales arborizados. Tinham que acumular energias para os longos voos nocturnos. Nas altas pradarias, os maçaricões encontravam bandos de narcejas e de estorninhos. Mas não se ouvia qualquer cantar. Isso só aconteceria na reserva de criação, e, para a maior parte deles, ela distava ainda mais de três mil quilómetros.
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