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REVOLUÇÃO VERDE?
Nos primeiros anos, a agricultura intensiva cumpriu as suas promessas. A melhoria de rendimentos por hectare foi fenomenal. A mecanização, as sementes seleccionadas e os tratamentos químicos permitiram colheitas abundantes, exigindo cada vez menos mão-de-obra. Deste ponto de vista, esta revolução agrícola foi um sucesso. Sem ela, a revolução industrial que se fez em paralelo não teria lugar. E o mundo em que vivemos hoje não poderia existir.
A história quis que o período fasto da revolução agrícola coincidisse com as horas de glória da sociedade industrial: os 30 anos gloriosos, os anos 60, o rock-and-roll, os dias felizes. Os novos equipamentos consolaram-nos de certas tarefas aviltantes. Quem renunciaria hoje à sua máquina de lavar roupa?
A escassez de mão-de-obra colocava os assalariados em posição de força, perante o patronato. Numerosos direitos e vantagens foram adquiridos nesta época. Não existia o medo do desemprego e da exclusão. Os jovens podiam olhar o futuro com confiança, mesmo se alguns aspiravam a outro modelo. Foi o caso de numerosos jovens nascidos depois da guerra, que no fim dos anos 60 recusaram o único modelo imposto. (…)
Nesses tempos não muito longínquos, a ciência e a tecnologia fizeram-nos crer que tudo era possível. A medicina avançava a passos largos, deixando planar a doce ideia de que um dia venceríamos a própria morte. Em 1958 os russos punham em órbita o Sputnik, o seu primeiro satélite. Quatro anos mais tarde Youri Gagarine era o primeiro homem no espaço. Alguns anos depois os americanos poisaram na lua.
As pesquisas agronómicas avançavam igualmente bem. A melhoria das espécies por hibridação acelerou-se, ao mesmo tempo que novas moléculas químicas apareciam todos os anos. A impressão de domínio dos processos da terra e dos ciclos do Vivo gerou um sentimento de soberania alimentar. Uma soberania enfim definitiva, permitindo classificar as penúrias alimentares e as fomes na lista das más lembranças medievas.
Este sucesso foi qualificado como “revolução verde”. O contexto histórico e o estado dos conhecimentos da época justificavam o título. Esta revolução permitiu às gerações do pós-guerra entregar-se plenamente às delícias materialistas e ilusórias da sociedade de consumo, sem se preocupar com a sobrevivência alimentar. Em apenas 3 gerações, para uma maioria de nós, tornou-se quase total a desconecção com a nossa terra alimentadora. Hoje 70% dos franceses vivem na cidade. Uma boa parte deles nasceu lá. A maior parte deles ignora como é que cresce aquilo que comem.
Desligados da terra que cultivam do alto dos seus tractores, os agricultores perderam igualmente o contacto com os consumidores que alimentam. Os interlocutores mudaram sensivelmente, ao mesmo tempo que a sua actividade era fagocitada pelo sistema capitalista. Alimentar as populações tornou-se um meio de alimentar os lucros…
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