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A EROSÃO DOS SOLOS
Chateaubriand escrevia: “As florestas precederam os homens; os desertos seguem-nos”. Que diria ele hoje?
A erosão dos solos faz parte dum fenómeno em aceleração há anos. Pode transformar uma terra fértil em deserto. Como é que isso é possível?
Quando por uma razão ou outra a terra se encontra a nu, exposta ao vento, ao sol e à lavagem das chuvas, a erosão dos solos é um fenómeno natural. Mas as técnicas da cultura intensiva aceleraram este fenómeno, propagando-o a todo o planeta. O efeito secador dos ventos acentuou-se com a ausência de sebes, árvores ou pomares nos campos. A irrigação intensiva, ao sol, e sem cobertura do solo, provoca uma verdadeira lixiviação das terras.
Os produtos químicos misturados na água acentuam esta agressão, pelas reacções químicas que provocam.
A água das bombagens, muito mais “carregada” que a água das chuvas, depõe minerais no solo, acelerando a esterilização da terra: é o que se chama a salinização dos solos.
As monoculturas, deixando os solos a nu durante longos períodos, os trabalhos repetidos e profundos, são outras práticas que favorecem a erosão.
A “sobre-pastagem”, que podemos definir como criação intensiva a céu aberto, produz os mesmos efeitos. A terra é pisoteada e posta a descoberto pelo gado concentrado numa superfície reduzida, em relação ao número de cabeças. Os excrementos excessivos deixam de ser assimilados pelo solo, que se torna tóxico.
Cada parcela de terra assim posta a nu é uma nova ferida à superfície. Uma ferida que a acção do sol, do vento e da chuva vai abrir cada dia mais. É a lei do deserto a avançar.
Milhões de hectares de florestas tropicais foram já destruídos para os transformar em pastagens deste tipo, especialmente no Brasil. Este país produz grandes quantidades de carne bovina para os mercados ocidentais, particularmente o americano. Dez anos depois de abatida a floresta primária, estas terras notavelmente férteis transformam-se em desertos estéreis e tóxicos.
Todos os anos, uma superfície cultivável equivalente a duas vezes a da Bélgica torna-se estéril. Um terço da superfície agrícola espanhola está ameaçada a curto prazo. Os Estados Unidos estão confrontados com o mesmo problema em milhões de hectares.
Somente em 50 anos, a superfície cultivável no mundo passou de mais de 7 hectares por habitante, para os 2,3 hectares actuais. E este fenómeno é tanto mais inquietante, quanto é praticamente irreversível.
As culturas de agro-combustíveis e de forragens para gado só podem aumentar no futuro. Isso implica um novo desenvolvimento das culturas intensivas, e a prossecução da desflorestação. As perspectivas de consumo de carne no mundo vão no sentido do crescimento. São de esperar as práticas de “sobre-pastagem”.
Com tais tendências, o futuro da terra fértil parece tão sombrio como os milhões de toneladas de húmus que desaparecem todos os anos da superfície do planeta. A erosão dos solos tem futuro garantido.
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