segunda-feira, 29 de março de 2010

Planeta-Mãe - 11

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OS RISCOS DE EPIZOOTIAS ANIMAIS
As criações estabuladas confinaram em hangares os animais em grande número. Nesta promiscuidade, qualquer epidemia pode ser um desastre. São ministrados aos animais tratamentos antibióticos preventivos e outros medicamentos.
Tal como para as plantas, as mesmas causas têm os mesmos efeitos. Os germes, bactérias e outros vírus são cada vez mais resistentes e patogénicos. A geração “altamente patogénica” do vírus da gripe das aves H5N1 é provavelmente consequência destas práticas nos aviários. Antes de sofrer mutações, este vírus estava identificado desde 1985. Sujeito a um ambiente hostil nas criações intensivas, quase desapareceu durante vários anos. Mas reapareceu em 1998 na Ásia: mais virulento que nunca, altamente patogénico e resistente a todos os tratamentos conhecidos.
Este princípio da “mutação para resistir” verifica-se em numerosos organismos vivos. As ervas mutam para resistir aos herbicidas, os insectos mutam para resistir aos insecticidas, os germes e outros bacilos mutam para resistir aos fungicidas ou aos antibióticos, etc. Os germes multi-resistentes tornam-se a obsessão dos hospitais. A medicina moderna é confrontada com o retorno de doenças humanas que julgávamos erradicadas. A multiplicação de casos de tuberculose multi-resistente é apenas um exemplo.
O nível das defesas imunitárias dos animais criados em estábulo baixou consideravelmente, em razão do stress, do confinamento, da alimentação poluída química e geneticamente, e dos tratamentos antibióticos preventivos. Em consequência disso, os riscos de epizootias maiores cresceram.
Em 2007, uma nova forma de vírus da febre catarral, a doença da língua azul, apareceu nos Países Baixos. Resistente aos tratamentos habituais, o vírus estendeu-se às criações de ovinos e bovinos da Europa do Norte. Quem já esqueceu os desastres provocados pela febre aftosa na Inglaterra? E pela gripe das aves na Ásia? Estas doenças tornam a carne imprópria para consumo, e obrigam a verdadeiros massacres.
Para além dos problemas de consciência, o sacrifício de milhares ou milhões de cabeças de gado constitui um desperdício incrível. Para fornecer 50 Kg de proteínas, um animal consome no mínimo 800 Kg de proteínas vegetais. A menos que consumamos nós as culturas forrageiras previstas para os animais, todo o “desperdício de carne” representa uma diminuição da oferta de alimentos nos mercados. E origina também um aumento da procura no mercado de cereais. Com efeito, quando os produtos “animais” se tornam raros, a procura volta-se para os restantes.
Nos países ocidentais, os produtos de origem animal (carne, lacticínios, ovos, etc) representam 20 a 40% das calorias alimentares consumidas todos os dias. Tantas quantas seria necessário substituir por outros produtos, se estes viessem a escassear.
Na China, em 2007, a epizootia suína chamada da orelha azul dizimou as criações industriais. Várias dezenas de milhares de porcos morreram ou foram abatidos. Os preços da carne mais consumida na China praticamente dobraram (+86%) entre Julho de 2006 e 2007. Os chineses voltaram-se para o arroz e os cereais, o que começou a esvaziar os stocks de arroz, ao mesmo tempo que baixava a produção mundial em resultado de fenómenos climáticos desfavoráveis em países produtores como o Vietnam. O preço do arroz quase duplicou em poucos meses.

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