segunda-feira, 29 de março de 2010

Hora do folhetim - 21

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O maçaricão sabia que tinham de continuar a voar ainda para leste, para que o temporal os não apanhasse de novo. Mas isso era um simples reconhecimento factual, que não provocava nenhum sentimento de medo. Já tinha esquecido o pânico do tempestuoso céu de neve, tinha esquecido mesmo as tarambolas afogadas, só se lembrava da tempestade. Na sua memória ela não era um acontecimento horrível e medonho, apenas um inimigo natural com que tinha que contar, e que era preciso evitar.
Mas o bando queria dirigir-se para sul, e, para leste, apenas se estendia o imenso mar vazio. Assim, meia hora depois, o maçaricão mudou de rumo e apontou a sul. Durante cerca de meia hora voaram nessa direcção, sem obstáculos, até que a frente tempestuosa os apanhou de novo. Logo que as primeiras gotas de chuva caíram, o maçaricão rodou para leste, e alguns minutos depois o bando encontrou de novo ar límpido e tranquilo.
Nas três horas que faltavam para a alvorada tiveram que repetir várias vezes esta manobra. Rumavam para sul até a chuva os atingir, e viravam a leste para a manter atrás de si. Voavam precisamente em direcção ao sul, quando um clarão amarelado rasgou o céu sombrio. Amanhecia rapidamente, a escuridão do mar transformou-se num verde frio, mas o sol não nascera ainda. Continuaram a voar para sul, uma hora, duas horas, o manto de nuvens tornou-se menos espesso e o dia mais claro, e o temporal não voltou. Mesmo as grossas nuvens cinzentas a oeste desapareceram, e a leste rompeu o sol, como um archote, através da névoa que se dissolvia. O ar permanecia frio, mas em breve apenas o sol se erguia, no vasto céu azul.
O bando tinha finalmente ultrapassado o temporal, rompendo para sul. O que ainda restava das nuvens geladas da noite diluía-se lá para o norte, sobre os bancos de pesca da Terra Nova.
(...)

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