sexta-feira, 14 de maio de 2010

Planeta-Mãe - 14

(...)
Apesar da sua aparente riqueza, quantas destas famílias se reconhecem em situação de sobre-endividamento? Neste aspecto, a explosão da bolha especulativa ainda não chegou à França e à Europa, mas também à China. Na primavera de 2009, crescia o número de famílias que apresentou um dossier de sobre-endividamento ao Banco de França. Mesmo que o esvaziar desta bolha imobiliária venha a ser menos brutal na Europa do que do outro lado do Atlântico, ela parece ser inelutável. Do ponto de vista das famílias mais modestas, fustigadas pela alta vertiginosa dos alugueres nos últimos anos, este esvaziamento é uma necessidade urgente.
Na China, a explosão da bolha imobiliária poderia ultrapassar as proporções da dos Estados Unidos. Com efeito, a economia desta ditadura inspira-se nos mecanismos do capitalismo desenfreado. A partir do Outono de 2008, e para escapar à queda do crescimento, o estado chinês injectou dinheiro maciçamente na economia, sob a forma de facilidades de crédito. A ideia era criar um forte consumo interno, para aligeirar a baixa das exportações. Aproveitando estas oportunidades de endividamento vantajoso, as famílias foram no jogo. Só em Junho de 2009, os preços do imobiliário aumentavam mais de 7%, enquanto crescia a taxa de endividamento das famílias. À semelhança do que fizeram os Estados Unidos desde 2001, estas injecções de crédito permitiram à China “salvar o seu crescimento”. Por quanto tempo? E depois??
O aumento do endividamento das famílias não é a única consequência da urbanização galopante dos campos. O desenvolvimento deste modo de vida tem um impacto significativo no ambiente. São numerosos os rurbanos que fazem a triagem dos seus lixos, ou investem em certos “equipamentos verdes”: lâmpadas de baixo consumo, aquecimento solar, viatura “limpa”, etc. Todos estes pontos são positivos. Mas este recurso à “tecnologia verde” pode conduzir a um afastamento da via ecológica. Algumas casas revelam este afastamento: villas rodeadas de relva perfeitamente aparada, com sebes de tuias e áleas de pavimento autoblocante tratado quimicamente… mas dotadas de painéis solares nos telhados. Esta caricatura corrente é reveladora dum certo estado de espírito. Tentamos fazer ecologia, sem nos reaproximar da natureza!
Enquanto a nossa busca de retorno à natureza não for acompanhada por uma mudança verde no nosso modo de vida; enquanto o retorno ao campo não for acompanhado de um regresso à terra, a rurbanização tomará parte na redução das nossas capacidades de produção agrícola. Mas se for acompanhado por uma vontade de regresso ao essencial, especialmente alimentando-nos melhor e o mais possível por nós próprios, o êxodo citadino poderá ter um efeito inverso.

Sem comentários:

Enviar um comentário