domingo, 15 de agosto de 2010

Hora do folhetim - 33

(...)
Uma noite, quando um forte vento de oeste soprava sobre os montes junto à costa, voaram como habitualmente terra adentro. Mas desta vez o macho subiu nos ares mais alto do que era costume. Seguiu pelas Pampas adiante, e, quando a escuridão caíu, continuaram a voar. As etapas diárias que tinham percorrido eram curtas, e já não satisfaziam o impulso migratório cada vez mais urgente. Deixaram a costa para trás e voaram para noroeste, na direcção dos Andes. O macho sentiu diminuir a tensão, ao reconhecer, com a primeira noite de voo, que a migração tinha de facto começado.
Voaram durante seis horas e as asas fatigaram-se. Quando poisaram para descansar, era ainda muito escuro. Agora deslocavam-se pouco durante o dia. Mas, logo que o sol se punha, o maçaricão conduzia a fêmea para as alturas do céu e encaminhava-se sempre para noroeste. A cada noite as asas ganhavam força, e, uma semana depois, voaram desde o pôr do sol até à madrugada, sem poisar.
E assim continuaram, o macho sempre à frente e a fêmea um pouco atrás e ao lado, arrastada pelo turbilhão de ar, numa das pontas da asa. Na escuridão falavam continuamente um com o outro, enviavam-se pequenos sinais, um pouco mais fortes do que o rumor do vento cortado pelo voo. E o macho foi esquecendo lentamente a sua antiga solidão de sempre. Encontravam muitas tarambolas. Mas os dois bastavam-se a si próprios, e a sua relação preenchia-os tão completamente que nunca se juntaram a qualquer bando. A maior parte das vezes voavam sozinhos.
(...)

Sem comentários:

Enviar um comentário