quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Planeta-Mãe - 24

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CONCLUSÃO SOBRE O RISCO DE PENÚRIA ALIMENTAR

O QUE É QUE PODERIA EVITAR QUE ELA ACONTEÇA?
Tendo em conta os factores que condicionam a baixa da produtividade, e aqueles que aceleram o aumento da procura, a questão que hoje se coloca, sobre a penúria alimentar, é saber se ainda a podemos evitar.
Para evitar uma crise alimentar generalizada, seriam necessárias mudanças que permitissem inverter radical e rapidamente todos os fenómenos anteriormente descritos. Isto é, mudar radical e rapidamente o regime alimentar e o modo de vida das populações ocidentais, modificando ao mesmo tempo os nossos métodos de cultura à escala do planeta.
Reconverter um campo de milho cultivado quimicamente, num campo de batatas, de nabos ou cenouras, não se faz dum dia para o outro. Mas a sensação de fome começa desde a primeira refeição aligeirada ou adiada.
Esperar que uma parte da população ocidental viva esta situação extrema, para iniciar as mudanças necessárias, expõe-nos a perigos graves. As consequências económicas, sociais e políticas seriam à medida da nossa teimosia, durante os decénios passados.

QUANDO É QUE ELA AMEAÇA CHEGAR?
A esta questão podemos responder que ela já está em curso, uma vez que um bilião de seres humanos vive todos os dias a sensação de fome.
No Ocidente, tem sido graças aos stocks dos anos passados que até agora temos escapado à crise alimentar. Estando os stocks mundiais em baixo, bastará um ano de colheitas calamitosas para que sejamos confrontados com ela. Inversamente, boas colheitas concedem-nos todos os anos um adiamento.

COMO É QUE A CRISE PODE SER DESENCADEADA?
Dois cenários são possíveis. O primeiro exclui qualquer acontecimento excepcional. Neste caso prosseguiriam as tendências de fundo, com repercussões mais ou menos marcadas sobre as colheitas, conforme os anos. As tensões sobre os mercados dos produtos agrícolas subiriam progressivamente. Seriam cada vez mais frequentes as situações críticas, e cada vez mais próximas de nós. A subida dos preços aconteceria lentamente, na continuidade do que conhecemos há alguns anos. Certos alimentos acabariam por faltar, depois outros, etc.
O segundo cenário tem em conta numerosos acontecimentos excepcionais, susceptíveis de acelerar as tendências em curso: fenómenos climáticos maiores, aparecimento de pestes vegetais, ou outras pragas resistentes aos tratamentos, falta de água, epizootias nos estábulos, etc. Neste cenário tudo pode alterar-se em apenas algumas semanas. A explosão dos preços seria então vertiginosa e brutal. A fome poderia afectar uma parte da população ocidental em muito pouco tempo. Estes acontecimentos mais não fariam do que revelar-nos brutalmente as consequências dos nossos actos passados.

INTERDEPENDÊNCIA
Interdependência e interacção são também princípios aplicáveis às causas acima descritas. Por exemplo, as faltas de água, as grandes amplitudes térmicas ou as chuvas fortes, têm sobre os rendimentos um impacto não só directo, mas também indirecto. Criam circunstâncias propícias ao desenvolvimento de doenças.
A interacção dos fenómenos aplica-se a uma escala global. Outros factores, aparentemente estranhos à actividade agrícola, podem desempenhar um papel maior na evolução das tendências em curso. A crise financeira, ou as tensões internacionais que perturbem as trocas comerciais, são apenas dois exemplos. Mais surpreendente ainda, uma pandemia mundial de gripe, suína ou aviária, teria impacto nos mercados sobre a procura: os consumidores voltar-se-iam certamente para os cereais, em detrimento da carne.
Tendo em conta estas regras de interdependência, não seria surpreendente se tudo acontecesse ao mesmo tempo.

QUE FAZER?
No tratamento duma doença, o diagnóstico dos sintomas é apenas uma primeira etapa. Pode a terapia contentar-se com o tratamento dos sintomas, sem correr o risco de recidivas crónicas? Ir à raiz dos males e identificar as suas causas profundas é a etapa que deveria seguir qualquer diagnóstico.
Relativamente à ameaça de penúria alimentar, antes de propor soluções aplicáveis à escala individual, uma outra questão se impõe: como é que chegámos aqui?
(...)

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