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A REVOLUÇÃO VERDE
Só uma estratégia permitia vencer estes dois desafios duma só vez: para aumentar os rendimentos agrícolas, forçando os camponeses a deixar as suas terras, bastou fazer a própria agricultura entrar na era industrial. O emparcelamento foi feito neste sentido, favorecendo as grandes áreas dum só terratenente, em prejuízo das pequenas parcelas. As grandes explorações foram privilegiadas, tendo sido subvencionadas para se mecanizarem. Algumas taxas, até então indexadas à área cultivada, tornaram-se acidentais. Proporcionalmente, os encargos das grandes explorações foram aligeirados, e as dos mais pequenos aumentaram. As produções aduzidas pela mecanização e a química fizeram baixar o preço dos produtos alimentares, arrastando os rendimentos dos pequenos camponeses. Foi assim que a pobreza dos pequenos camponeses se acentuou, durante o que chamámos a revolução verde.
Pais trabalhando de sol a sol, seis dias por semana, filhos nos campos após a escola e durante as férias, os fins do mês a pão e leite… são uma outra realidade vivida por milhões de jovens franceses nos anos 50 e 60. Os “happy days”, a “trintena gloriosa”, a “febre de sábado” não foram para toda a gente. Os cursos de jardinagem foram suprimidos dos programas escolares, a publicidade e as tentações do mundo moderno multiplicaram-se… e aconteceu o êxodo rural que fora programado. Os relatórios remetidos ao gen. De Gaulle em 1950 não estavam errados: diziam eles que, criando uma significativa diferença de nível de vida entre o campo e as cidades, o êxodo das populações rurais para as luzes das cidades far-se-ia “naturalmente”.
O desenvolvimento do modo de vida urbano gerou novas necessidades: electrodomésticos, viaturas, mobiliário, passatempos, vestuário na moda… a sociedade de consumo estava em marcha. A maior parte destes bens de consumo era então produzida localmente. A sua fabricação acentuou a necessidade de mão-de-obra nas minas e nas fábricas.
A migração para a cidade gerou igualmente necessidades de alojamento. A construção de casas exigiu mais mão-de-obra. A nossa economia foi então tomada por uma fuga em frente, que hoje pode parecer surrealista: uma fuga em frente da parte do trabalho, responsável pela penúria de mão-de-obra.
Produzir mais com menos braços, tal foi a divisa do mundo industrial, assim como do mundo agrícola. Além das medidas fiscais, das subvenções e do emparcelamento, a ciência e as tecnologias foram postas ao serviço desta exigência.
Na agricultura, foram seleccionadas e melhoradas por hibridação as variedades cultivadas. Estes híbridos deviam oferecer:
- alto rendimento por hectare; crescimento rápido, em volume e em número; plantas adaptadas ao cultivo mecanizado; produtos fáceis de transportar, armazenar e conservar; variedades mais fáceis de cultivar e colher; legumes maiores e com melhor aspecto, etc.
Por exemplo, o trigo hoje cultivado cresce mais depressa e é menos alto do que as antigas variedades rústicas. Isso impede que as plantas se dobrem para o solo antes da ceifa, permitindo acelerar a rotação das culturas.
O cultivo de plantas híbridas tornou-se a norma. As sementes híbridas são protegidas por patentes, e não reproduzem as suas características de geração em geração. Assim, os agricultores têm que comprar novas sementes todos os anos. Perdem assim uma sabedoria fundamental: a produção das próprias sementes. Os sementeiros ganharam um poder sem precedentes.
Os híbridos são geralmente variedades mais frágeis e mais exigentes do que as variedades rústicas. Por exemplo, o sistema radicular dos milhos híbridos é atrofiado. É insuficiente para que a planta recolha do solo a água e os nutrientes de que necessita. A planta é frágil e particularmente sensível à sequia. Tornou-se necessário encontrar soluções para assegurar a saúde destas culturas. Ao mesmo tempo que as grandes áreas cobertas por uma mesma cultura aumentavam muito os riscos de doenças e a sua velocidade de propagação.
Os tratamentos químicos e pesticidas foram a resposta a estes problemas de “saúde” das culturas. Os campos tornaram-se campos de batalha, o terreno duma guerra química que nos opõe a todas as formas de Vida que comprometam as nossas expectativas de rendimento. Além disso, estas armas químicas foram produzidas pelos mesmos fabricantes de armas, parcialmente reconvertidos. Monsanto, por exemplo, foi o fabricante do gás mostarda utilizado na I Guerra Mundial, e do agente laranja utilizado no Vietname.
Um solo cultivado quimicamente deixa de conter húmus. A vida orgânica do solo, responsável pela sua fertilidade natural, é destruída pelos vários –cidas que impregnam o solo depois da pulverização. O recurso aos adubos químicos tornou-se indispensável. E quem é que se encarregou de produzir e comercializar os adubos químicos? As mesmas multinacionais que vendem os –cidas e as sementes híbridas. São hoje os promotores dos OGM. As multinacionais da agroquímica conheceram um desenvolvimento vertiginoso depois dos anos 50. Estão hoje entre os maiores potentados económicos do mundo.
Do alto dos seus imensos tractores e outras máquinas, os agricultores de hoje já não têm os pés sobre a terra. Por vezes nem têm consciência do estado do solo. Já não o tocam, nem o sentem, e só o vêm lá do alto. As quantidades de produtos químicos, a sua complexidade e usos cumulativos não cessaram de aumentar nos últimos 50 anos. 500 mil toneladas de produtos activos são disseminados pelo mundo todos os anos. Esta quantidade triplicou nos últimos 15 anos, e continua a aumentar. Se começam a surgir esforços para reduzir progressivamente o uso destes produtos nos nossos países desenvolvidos, a verdade é que o seu uso continua a expandir-se por todo o planeta.
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