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Porém, com excepção das tarambolas-douradas, nenhuma narceja era tão rápida como o maçaricão. E assim ele alcançava sempre os bandos que voavam na sua dianteira. Primeiro ouvia os ténues gorgeios, através dos quais as aves comunicavam. Depois o turbilhão tornava-se mais forte. E finalmente surgia o bando, confundido com o cinzento do céu. O maçaricão acompanhava-o durante algum tempo, mas acabava por ultrapassá-lo, devido à sua maior velocidade. E continuava a voar sozinho.
Nessa noite aconteceu isso várias vezes, pois as camadas de ar por cima da tundra em arrefecimento estavam agitadas, e a maioria dos bandos voava à mesma altitude, um pouco acima dos níveis de turbulência. Pela manhã o maçaricão deparou com uma esteira mais larga, e adaptou o batimento de asa às novas condições de impulsão. Voou assim durante longo tempo, e o turbilhão causado pelas pontas das asas das aves que o precediam manteve-se inalterável. Desta vez ele não alcançou o bando automaticamente. Ainda não era o tempo de migração dos patos e dos gansos. Nesta altura, só duas espécies eram tão velozes que o maçaricão as não podia ultrapassar sem esforço. Tinham que ser tarambolas-douradas... ou maçaricões-esquimós.
As incansáveis asas bateram-lhe mais depressa. O ar comprimiu-se fortemente contra o seu corpo aerodinâmico. O turbilhão do bando invisível foi-se tornando maior, e era de facto mais forte do que todos os outros que encontrara nessa noite. A sua impaciência cresceu. Uma leve esperança, meio reacção instintiva e meio vago pensamento consciente, agitou-se-lhe no cérebro. Estava iminente o fim desta interminável procura de companheiros da espécie? O maçaricão aumentou a velocidade, até lhe doerem, do esforço, os poderosos tendões do peito, um dos tecidos mais fortes em todo o reino animal.
Aproximou-se do bando. Na escuridão, só agora iam tomando forma as aves que o precediam, primeiro vaga, depois mais claramente. Durante um bom minuto o maçaricão apenas pôde reconhecer a linha desvanecida da sua formação, mas agora via claramente cada uma das aves. Só voadores fortes e rápidos, como os gansos, os maçaricões e as tarambolas-douradas voavam assim, nesta formação em coluna, em diagonal ou em cunha. Através dela, cada ave tirava partido do turbilhão da ponta da asa da ave precedente, sem que fosse perturbada pela esteira de turbulência que ela deixava atrás de si. E o maçaricão sabia que os gansos ainda não voavam para sul. Ficou ainda mais impaciente, voou ainda mais depressa.
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