terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Planeta-Mãe - 4

(...)
IRREGULARIDADES CLIMATÉRICAS
Falamos aqui de irregularidades climáticas, e não do aquecimento global. Mesmo estando intimamente ligados, são dois fenómenos diversos. Tal como o aquecimento global, a irregularidade climática é consequência do desequilíbrio na composição gasosa da atmosfera. Os gases com efeito de estufa fazem não só aumentar a temperatura média, mas contribuem também para o aumento das amplitudes térmicas: as temperaturas máximas são cada vez mais elevadas, e as mínimas cada vez mais baixas.
Este aumento de amplitude entre as temperaturas extremas influencia directamente os fenómenos climáticos. As tempestades, os furacões, os ciclones, resultam do choque entre massas de ar quente e húmido, e massas de ar frio. Quanto maior for a diferença de temperaturas, mais intensos e numerosos são estes fenómenos. É verdade que sempre existiram fenómenos climáticos extremos, como os arquivos atestam. Mas nas últimas décadas assistimos a um recrudescimento dos fenómenos violentos. Tornou-se banal bater recordes neste campo.
Nos últimos 20 anos, segundo um relatório da organização humanitária OXFAM publicado em Novembro de 2007, quadruplicou o número de catástrofes naturais ligadas ao clima. Passaram de 120 por ano, em média, no início dos anos 80, para perto de 500 actualmente. A organização estima que o número de pessoas atingidas todos os anos passou de 174 milhões entre 1985 e 1994, para 254 milhões entre 1995 e 2004.
Além do sofrimento humano e das perdas materiais que provocam, estes fenómenos climatéricos têm consequências significativas para a agricultura e a produção mundial de alimentos.
As geadas tardias comprometem as produções fruteiras e de outros primores, as tempestades destroem as colheitas, os períodos de canícula e de seca reduzem consideravelmente os rendimentos. Isto enquanto os excessos de água arrastam o apodrecimento, favorecem o desenvolvimento de doenças e limitam o potencial de conservação dos produtos. A actualidade é caracterizada por um fluxo quase contínuo de acontecimentos deste tipo.
As colheitas da campanha de 2007, na Europa, foram particularmente medíocres: o noroeste do continente teve um Verão particularmente húmido, enquanto o sueste conheceu uma canícula e uma seca sem precedentes.
A Índia sofreu em Outubro de 2007 a “monção do século”, que destruiu cerca de um terço das colheitas do país.
Depois de vários anos de seca, a Austrália suportou no final de 2007 a “seca do século”. A colheita cerealífera foi reduzida.
Em consequência dum fenómeno climatérico até então desconhecido e não explicado pelos meteorologistas, o centro do continente africano foi fustigado por chuvas diluvianas no Outono de 2007. Colheitas e rebanhos foram destruídos em oito países.
Os rebanhos de ovinos da Nova Zelândia, principal recurso agrícola do país, sofreram uma redução espectacular em 20 anos. No seguimento de um período de seca inaudito, a diminuição atingiu 11% só no ano de 2007.
Em França, a primavera fria e húmida de 2008 limitou a polinização das árvores de fruto. Certas colheitas de pêssegos e alperces foram divididas por quatro, particularmente no vale do Ródano. Os altos preços atingidos foram consequência da escassez. E assim por diante.
Todos estes fenómenos acarretam uma redução da oferta de alimentos nos mercados nacionais e mundiais. Para além do desaparecimento longínquo dos bancos de gelo, ou de certas ilhotas do fim do mundo, as irregularidades climáticas já nos atingem, pelo custo crescente daquilo que pomos no prato.
Tais fenómenos contribuem também para o aumento da procura: a sobrevivência alimentar das populações sinistradas depende de recursos vindos de algures. Nos países pobres, estes alimentos dependem muitas vezes de acções humanitárias. Poderão os orçamentos das ONG’s crescer ao mesmo ritmo da procura, enfrentando a alta dos preços de mercado? Se um dia a oferta não for suficiente para cobrir as necessidades dos países ricos, que parte restará para os países pobres?
A acreditar nas perspectivas actuais de evolução do clima, é de esperar o aumento dos fenómenos climatéricos violentos nos anos vindouros. E depois dos transportes, a agricultura intensiva é a segunda fonte de emissão de gases com efeito de estufa. É o arroseur arrosé!

Sem comentários:

Enviar um comentário