QUESTÕES DE CIRCUNSTÂNCIA
Crises energética e financeira, sobre-endividamento das famílias, das empresas e dos estados, desemprego e redução do poder de compra… numerosos são os males que afectam a saúde da economia.
Acentuação das desigualdades entre países e entre indivíduos, concentração das riquezas nas mãos duma minoria, aumento da miséria humana e da sua exploração… são inquietações numerosas que cristalizam o sentimento de injustiça e a violência.
Irregularidades climáticas, poluição e penúria de água, poluição do ar e dos solos, redução da biodiversidade… são ameaças numerosas que pesam sobre o futuro da vida na Terra.
O sofrimento da fome e da malnutrição faz parte do quotidiano de mais de um bilião de seres humanos. O fenómeno não é recente. Nem cessou de agravar-se ao longo das últimas décadas, ao mesmo tempo que a obesidade no Ocidente se desenvolvia.
No princípio de 2008, os preços dos produtos alimentares atingiam extremos nos mercados mundiais. As “revoltas da fome” surgiram em vários países, como o Egipto, os Camarões, o México… De acordo com a FAO – o departamento da ONU que se ocupa dos problemas alimentares e agrícolas mundiais – a crise alimentar afectou mais de 40 países. Desta vez não foram apenas afectadas as populações dos países mais pobres do planeta.
De todos os males que sobrecarregam a economia, de todas as perturbações que suscitam a cólera e a revolta, de todas as ameaças que pairam sobre o nosso futuro, o pior podia muito bem ser a penúria alimentar.
Tal ideia parecerá difícil de entender aos nossos espíritos de ocidentais do séc. XXI, que há três gerações conhecem a abundância alimentar, desde o pós-guerra. Desde há 60 anos, o único obstáculo para usufruir de uma oferta quase ilimitada de alimentos é poder pagá-la. Para a maioria de nós, a fome é uma sensação física desagradável que ignoramos. Como é que este flagelo do passado poderia ameaçar-nos de novo? Como é que um país como a França, terra agrícola por excelência, poderia ter um dia falta de alimentos? O que é que verdadeiramente se passa no mercado dos produtos alimentares?
Desperdícios nos países ricos, especulação bolsista, aumento da população mundial… diversos factores são evocados para explicar o agravamento da crise alimentar mundial. Entre a análise dos ecologistas e a dos dirigentes das multinacionais da agro-química, entre o ponto de vista dum grande produtor de cereais e o dum pequeno apicultor, entre a opinião dos políticos e a dos consumidores empobrecidos, é muitas vezes difícil formar uma opinião. As nossas emoções perante os acontecimentos impedem-nos por vezes o necessário distanciamento. Resta-nos um ponto de vista parcial, face a problemas cujas causas geralmente são globais. Quando estão em jogo interesses económicos maiores, o ponto de vista de alguns pode mesmo tornar-se parcial.
(...)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário