(...)
Nas encostas de declive ligeiro havia gafanhotos por todo o lado, e pastavam grandes rebanhos de carneiros. O capim estava tosado e rente, por isso era fácil encontrar os insectos. Os maçaricões comeram até terem os papos e os estômagos cheios. Ao escurecer já milhares de aves partiam. Não podiam ver-se na escuridão, salvo quando uma delas riscava o disco da lua, como um traço de sombra. Mas ouviam-se constantemente os seus gritos leves. Porém os maçaricões não tinham pressa, pois no Árctico era ainda inverno, e aqui podiam acumular gordura para o caminho até à reserva.
Esperaram uma semana, comeram muito e voavam cada dia um pouco mais para norte. Os seus corpos ficaram outra vez redondos e nédios, e agora, de novo com forças, ardia neles o impulso de acasalamento, como uma febre. No princípio da semana atingiram a ponta da península de Yucatán. Oitocentos quilómetros a norte, do outro lado do golfo do México, ficavam os pântanos da costa da Louisiana e do Texas, atrás dos quais se estendiam, quase até ao Árctico, as pradarias sem fim.
O CORREDOR DA MORTE
... Mas pior que tudo era a carnificina, quando as aves, na primavera, atravessavam o golfo do México, e se deslocavam em bandos pelas planícies norte-americanas.
Estes bandos enormes recordavam aos habitantes das pradarias os pombos-torcazes, e por isso os maçaricões foram chamados “pombos da pradaria”. Voavam aos milhares, em quantidades tais que os bandos mediam às vezes mil metros de comprimento por cem de largura. Quando poisavam, cobriam quarenta a cinquenta acres de solo. A matança era nesse tempo uma coisa inimaginável. Vinham caçadores de Omaha, no Nebraska, e abatiam as aves sem piedade, abatiam-nas literalmente às carradas. As aves mortas eram mesmo empilhadas em carros abertos, que chegavam a precisar de taipais laterais. Quando os bandos eram particularmente numerosos, e os caçadores dispunham de munições em abundância, os carros enchiam-se depressa. Despejavam-se então carregamentos inteiros na pradaria. As aves ficavam ali em pilhas enormes, como se de um monte de carvão se tratasse. Deixavam-nos a apodrecer, e os caçadores enchiam os seus carros com novas vítimas.
Tal carnificina só era possível pela dimensão dos bandos e pela mansidão das aves. Por cada tiro caíam normalmente dúzias delas ao chão. Certa vez um caçador abateu vinte e oito, com um único tiro de uma velha escopeta de carregar pela boca. E do bando que continuou a voar caíram ainda algumas aves mortas, nos mil metros seguintes. Voavam tão cerradas que era quase impossível atirar-lhes uma pedrada sem atingir uma delas...
Ao lado dos muitos fuzileiros que abatiam estas aves apenas para consumo próprio ou pelo prazer de matar, havia caçadores profissionais, que abasteciam os mercados e perseguiam sistematicamente os bandos...
Através de binóculos, os caçadores observavam a progressão do voo... Cada um podia aproximar-se das aves poisadas até uma distância de vinte e cinco ou trinta metros. Uma vez aí, os caçadores esperavam que elas se colocassem na melhor posição de fogo, após o que era disparada a primeira salva. Desorientadas, as aves levantavam voo e descreviam um par de círculos no ar, oferecendo novas oportunidades de tiro. Chegavam, por vezes, a poisar no mesmo local, e este procedimento repetia-se. Com uma arma de tiro semiautomático, um certo senhor Wheeler abateu de uma vez trinta e sete aves. Ocasionalmente podia observar-se pelos binóculos que o bando tinha poisado quatro ou cinco quilómetros mais adiante. A cavalo ou de carro, os caçadores dirigiam-se rapidamente ao seu encontro, e continuavam a chacina...
Nos anos oitenta, os efectivos de maçaricões diminuíram rapidamente...(...)
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