sábado, 2 de janeiro de 2010

Planeta-Mãe - 5

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A ESCASSEZ DE ÁGUA
Sem água, o ser humano apenas sobrevive alguns dias. Sem água nada cresce. Se nada cresce, deixamos de comer. Sem alimento, estamos todos mortos ao fim de algumas dezenas de dias. A nossa vida está profundamente ligada à água. Hoje mais que nunca!
A agricultura intensiva é fortemente dependente da irrigação. Sem água, os adubos químicos não podem dissolver-se. Não se misturam no solo e não produzem efeitos. 90% das culturas francesas são de tipo intensivo, isto é, químico. Este tipo de culturas expandiu-se largamente pelo planeta, assegurando hoje o essencial da produção alimentar mundial.
Se a irrigação tivesse que ser reduzida, as plantas cultivadas não sofreriam apenas de desidratação, mas também de carência de nutrientes. Os rendimentos baixariam então vertiginosamente, bem mais do que no quadro duma cultura tradicional. Este fenómeno seria tanto mais determinante, quanto é verdade que uma das causas maiores da escassez de água é justamente a agricultura intensiva.
Note-se que falamos aqui de “escassez” de água e não de “seca”. A seca é um fenómeno climático, que corresponde a um deficit pluviométrico em determinado tempo e espaço. Com o tempo, a seca pode conduzir a situações de escassez. Mas a seca é apenas um factor entre muitos outros, que explicam o aumento deste risco de escassez.
A “escassez de água” corresponde a um esgotamento das reservas, isto é, o enfraquecimento dos lençóis freáticos. Em França, o nível dos lençóis freáticos baixou de maneira notável em 1976, que foi um ano de grande seca. Esta tendência prosseguiu depois, mais ou menos rapidamente conforme os anos. No entanto, a pluviometria não baixou em França no decurso dos últimos 30 anos. A forma que assumem as precipitações é que mudou: elas são mais raras, mas cada vez mais intensas. À escala global, esta tendência está provavelmente ligada às irregularidades climáticas. À escala local, ela é igualmente uma consequência das modificações do coberto vegetal sobre o território, como por exemplo a transformação da floresta de folhosas em floresta de resinosas. A interacção entre a actividade de evapo-transpiração das plantas e a pluviometria é hoje um fenómeno reconhecido.
Neste contexto, o ordenamento do território realizado desde o pós-guerra acelerou a fuga das águas pluviais. A betonagem, o alcatroamento, a canalização das fossas ou a rurbanização (urbanização do mundo rural), aceleraram consideravelmente o ciclo da água. Em muitas regiões, qualquer acontecimento climatérico excepcional, como uma tempestade, pode hoje provocar cheias catastróficas em regatos e ribeiras. Vivemos ao mesmo tempo sob a ameaça de escassez de água e de inundações repentinas.
Mas a mudança mais importante no ciclo hidrológico é aquela que é imposta pelos nossos métodos de cultura.
Os lençóis freáticos são alimentados pela infiltração das águas da chuva no solo. À escala do país, são os trinta milhões de hectares de terras aráveis que viram a sua estrutura modificada. Reter a água é o único meio de lhe permitir infiltrar-se no solo e alimentar os lençóis. Sem retenção, as águas escorrem para as ribeiras, os rios, o mar.
As grandes monoculturas mecanizadas fizeram desaparecer os obstáculos à escorrência das águas: muros, sebes, fossos, zonas húmidas, etc. Além disso, para evitar os riscos de apodrecimento e doença em caso de chuvas fortes, os campos foram drenados. Ora este ordenamento acelerou consideravelmente os processos de escorrência. À imagem da nossa sociedade, a água corre sempre, e cada vez mais depressa. Ela não tem espaço para fazer pausas, para afrouxar, para chegar ao fundo das coisas.
Seja ausente, seja demasiado abundante à superfície, a água que chega aos lençóis freáticos é cada vez mais escassa. E é igualmente cada vez mais poluída. 70% das reservas de água subterrânea de França estão poluídas.
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