sábado, 26 de junho de 2010

Planeta-Mãe - 19

(...)
OS AGRO-COMBUSTÍVEIS
São combustíveis líquidos cuja primeira geração é fabricada a partir da colza, do trigo, do milho e da cana de açúcar, e em medida menor de óleos de cozinha e outras gorduras. Misturados à gasolina e ao gasóleo, permitem reduzir o consumo de petróleo.
A segunda geração de agro-combustíveis… não existe. Só existem hipóteses por confirmar, o que levará muitos anos. Entretanto tais hipóteses permitem amortizar os biliões investidos precipitadamente na construção de fábricas de “carburantes verdes” e de “bio-etanol”.
Seja qual for a sua geração, os agro-combustíveis são extraídos de vegetais cultivados em terras agrícolas. Isto quando um bilião de pessoas padece de fome e mal-nutrição.
O Brasil já consagra 15% da superfície cultivada à produção industrial de etanol com base na cana de açúcar. Estão em curso vários projectos de extensão desta actividade, havendo ainda disponíveis milhões de hectares cobertos de floresta. A procura mundial faz desta cultura um mercado prometedor.
Em Janeiro de 2007, Bush manifestou o desejo de que estes combustíveis representassem 15% do consumo de carburantes nos Estados Unidos até 2012. Quantos milhões de hectares de terra arável é que isso significa, tendo em conta o volume de petróleo consumido anualmente pelos americanos? Para encher o depósito duma viatura 4X4 com etanol puro, são precisos mais de 200 Kg de milho, ou seja, calorias bastantes para alimentar uma pessoa durante um ano.
A França tem como objectivo atingir os 10% até à mesma data. Porquê? Para respeitar a nossa quota de emissões de CO2. Porque é preciso ter boas razões, aos olhos da opinião pública, para poder ser ignóbil. A ecologia é o tapa-buracos do marketing político.
Ficam por encontrar os milhões de hectares de terras aráveis necessárias a essa cultura, num contexto em que as superfícies férteis se reduzem. As multinacionais preparam-se para comprar milhões de hectares de floresta primária no Brasil e na Indonésia, para plantar cana de açúcar e palma, cuja produção se tornará combustível. Mas tendo em conta a dependência energética da agricultura e dos processos industriais necessários para transformar os cereais em carburante, é preciso o equivalente energético de 1,2 a 1,5 litros de petróleo, para produzir um litro de bio-etanol.
E quanto às suas necessidades de água? Seca e poluição dos lençóis freáticos, erosão dos solos, alterações climáticas… todos os fenómenos já descritos não podem senão acelerar e amplificar-se.
Segundo um estudo do Banco Mundial, entre 2002 e 2008, a produção e utilização de agro-carburantes contribuíram para o aumento de 75% do preço dos produtos alimentares. Até então, o governo americano afirmava que eles não contribuíam com mais de 3%.
Os alimentos e a água serão em breve mais caros e mais raros do que o ouro negro. E se deixássemos a viatura na garagem e cultivássemos uma horta?
(...)

Sem comentários:

Enviar um comentário