quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Hora do folhetim - 48
(...)
O CORREDOR DA MORTE
A torda-mergulheira
Publicação quadrienal sobre Ornitologia
Editada pela Liga de Ornitólogos Americanos
Lancaster (Pensilvânia)
Comunicações gerais. Híbridos naturais entre Dendroica coronata e D. Auduboni... Colibri-de-bico-grosso (Eugenes fulgens) no Colorado... Maçaricão-esquimó no Texas.
Em Março, perto de Galveston (Texas), foram avistados pelo autor e por vários outros observadores dois maçaricões-esquimós, os quais, segundo todos os indícios, estavam acasalados. Encontravam-se no meio de um grande bando de várias espécies de narcejas, entre pilritos-dos-prados e das-praias, abibes, galinholas, bem como garças e centenas de maçaricões-norte-americanos. Todas as aves procuravam alimento num terreno paralelo à costa, composto de zonas arenosas, charcos e extensões de relva. A proximidade directa entre maçaricões-esquimós e norte-americanos ofereceu uma bela oportunidade para comparações.
Eram evidentes o menor tamanho do corpo e o bico mais curto dos maçaricões-esquimós. À luz clara do sol da tarde, quando as aves se moviam, podiam reconhecer-se claramente o grande recorte escuro das asas e a falta da risca ao meio da cabeça. Durante uma hora revimos todos os sinais ornitológicos. Isso aconteceu com ajuda de binóculos, a partir duma viatura estacionada a menos de cem metros de distância... Como acontece muitas vezes junto da costa texana do golfo, durante a época de migração da primavera, uma trovoada na noite anterior, com forte precipitação e ventanias de sul, obrigou as aves a poisar aqui temporariamente. - Sargento Joseph M. Heiser Junior...
A MIGRAÇÃO DA PRIMAVERA (RESUMO)
A observação de um casal de maçaricões-esquimós na ilha de Galveston (Texas) foi sem dúvida o resultado mais notável. Este é o primeiro registo aceitável desta espécie, desde há vários anos. Ao longo dos últimos vinte anos, apenas aves isoladas foram ocasionalmente avistadas. Tem grande significado o facto de se tratar aqui, provavelmente, de aves acasaladas. Enquanto existir um casal, mantém-se a esperança de que talvez a espécie se não extinga...
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O CORREDOR DA MORTE
A torda-mergulheira
Publicação quadrienal sobre Ornitologia
Editada pela Liga de Ornitólogos Americanos
Lancaster (Pensilvânia)
Comunicações gerais. Híbridos naturais entre Dendroica coronata e D. Auduboni... Colibri-de-bico-grosso (Eugenes fulgens) no Colorado... Maçaricão-esquimó no Texas.
Em Março, perto de Galveston (Texas), foram avistados pelo autor e por vários outros observadores dois maçaricões-esquimós, os quais, segundo todos os indícios, estavam acasalados. Encontravam-se no meio de um grande bando de várias espécies de narcejas, entre pilritos-dos-prados e das-praias, abibes, galinholas, bem como garças e centenas de maçaricões-norte-americanos. Todas as aves procuravam alimento num terreno paralelo à costa, composto de zonas arenosas, charcos e extensões de relva. A proximidade directa entre maçaricões-esquimós e norte-americanos ofereceu uma bela oportunidade para comparações.
Eram evidentes o menor tamanho do corpo e o bico mais curto dos maçaricões-esquimós. À luz clara do sol da tarde, quando as aves se moviam, podiam reconhecer-se claramente o grande recorte escuro das asas e a falta da risca ao meio da cabeça. Durante uma hora revimos todos os sinais ornitológicos. Isso aconteceu com ajuda de binóculos, a partir duma viatura estacionada a menos de cem metros de distância... Como acontece muitas vezes junto da costa texana do golfo, durante a época de migração da primavera, uma trovoada na noite anterior, com forte precipitação e ventanias de sul, obrigou as aves a poisar aqui temporariamente. - Sargento Joseph M. Heiser Junior...
A MIGRAÇÃO DA PRIMAVERA (RESUMO)
A observação de um casal de maçaricões-esquimós na ilha de Galveston (Texas) foi sem dúvida o resultado mais notável. Este é o primeiro registo aceitável desta espécie, desde há vários anos. Ao longo dos últimos vinte anos, apenas aves isoladas foram ocasionalmente avistadas. Tem grande significado o facto de se tratar aqui, provavelmente, de aves acasaladas. Enquanto existir um casal, mantém-se a esperança de que talvez a espécie se não extinga...
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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Planeta-Mãe - 37
(...)
As Soluções Encaradas
Nos últimos anos, certos militantes ecologistas adoptaram uma atitude que permite alargar a tomada de consciência dos perigos ecológicos existentes. Esta aproximação consistiu em tornar a mensagem ecológica aceitável aos ouvidos da nossa sociedade, tendo em conta os modos de vida e o estado de espírito contemporâneos. Relativamente à tomada de consciência dos sintomas e do que está em causa, esta atitude foi um grande sucesso. Já quanto às soluções a pôr em prática, o resultado é mais fraco.
Se a realidade dos problemas foi reconhecida por um grande número, as suas causas profundas foram largamente ignoradas. É que elas decorrem dos nossos modos de vida e dos fundamentos da nossa sociedade de consumo. Por não sermos capazes de pôr em causa o nosso modo de ser, tentamos minimizar as consequências dos nossos actos. No entanto, não salvaremos o planeta assinando o pacto da mão verde, ou colando uma pastilha verde nas nossas viaturas. Não basta fazer a sua triagem, para resolver o problema das quantidades crescentes de lixos. Não basta instalar algumas centenas de turbinas eólicas para sair do nuclear, etc.
Do mesmo modo, as soluções habitualmente encaradas para remediar a crise alimentar mundial decorrem duma aproximação deste tipo. Ela tem em conta o funcionamento actual da nossa sociedade e as técnicas agrícolas dominantes. E também os poderosos lóbis industriais e os interesses económicos instalados. As soluções encaradas não põem em causa o modelo dominante, quando as causas fundamentais dos nossos problemas se encontram justamente na nossa visão produtivista, industrial e “mineral” da agricultura.
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As Soluções Encaradas
Nos últimos anos, certos militantes ecologistas adoptaram uma atitude que permite alargar a tomada de consciência dos perigos ecológicos existentes. Esta aproximação consistiu em tornar a mensagem ecológica aceitável aos ouvidos da nossa sociedade, tendo em conta os modos de vida e o estado de espírito contemporâneos. Relativamente à tomada de consciência dos sintomas e do que está em causa, esta atitude foi um grande sucesso. Já quanto às soluções a pôr em prática, o resultado é mais fraco.
Se a realidade dos problemas foi reconhecida por um grande número, as suas causas profundas foram largamente ignoradas. É que elas decorrem dos nossos modos de vida e dos fundamentos da nossa sociedade de consumo. Por não sermos capazes de pôr em causa o nosso modo de ser, tentamos minimizar as consequências dos nossos actos. No entanto, não salvaremos o planeta assinando o pacto da mão verde, ou colando uma pastilha verde nas nossas viaturas. Não basta fazer a sua triagem, para resolver o problema das quantidades crescentes de lixos. Não basta instalar algumas centenas de turbinas eólicas para sair do nuclear, etc.
Do mesmo modo, as soluções habitualmente encaradas para remediar a crise alimentar mundial decorrem duma aproximação deste tipo. Ela tem em conta o funcionamento actual da nossa sociedade e as técnicas agrícolas dominantes. E também os poderosos lóbis industriais e os interesses económicos instalados. As soluções encaradas não põem em causa o modelo dominante, quando as causas fundamentais dos nossos problemas se encontram justamente na nossa visão produtivista, industrial e “mineral” da agricultura.
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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Hora do folhetim - 47
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No princípio de Abril, a velha inquietação de novo se apoderou deles. Faziam pequenas deslocações nocturnas, e lentamente iam acompanhando a primavera. Voavam de vez em quando várias horas, antes da pausa da alvorada, por vezes ficavam vários dias no mesmo local. Esperavam até que a primavera avançasse, depois voavam um par de noites até a alcançarem, ultrapassavam-na e esperavam de novo por ela. O sinal de partida era-lhes dado pelas flores dos salgueiros, nas margens dos riachos. Quando estas abriam e inundavam de pólen as suaves brisas da noite, os maçaricões lançavam-se para o ar. Voavam até chegarem a um local onde os rebentos dos salgueiros ainda estivessem fechados, e onde a ervagem da pradaria fosse ainda de cor castanha. Enquanto esperavam, comiam abundantemente, ovos de gafanhotos que os seus bicos sensíveis detectavam no solo húmido. E, quando os rebentos dos salgueiros brotavam em flor, continuavam a avançar para norte.
Em cada semana era maior a urgência, pois a primavera alastrava cada vez mais depressa, pelas vastidões do norte.
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No princípio de Abril, a velha inquietação de novo se apoderou deles. Faziam pequenas deslocações nocturnas, e lentamente iam acompanhando a primavera. Voavam de vez em quando várias horas, antes da pausa da alvorada, por vezes ficavam vários dias no mesmo local. Esperavam até que a primavera avançasse, depois voavam um par de noites até a alcançarem, ultrapassavam-na e esperavam de novo por ela. O sinal de partida era-lhes dado pelas flores dos salgueiros, nas margens dos riachos. Quando estas abriam e inundavam de pólen as suaves brisas da noite, os maçaricões lançavam-se para o ar. Voavam até chegarem a um local onde os rebentos dos salgueiros ainda estivessem fechados, e onde a ervagem da pradaria fosse ainda de cor castanha. Enquanto esperavam, comiam abundantemente, ovos de gafanhotos que os seus bicos sensíveis detectavam no solo húmido. E, quando os rebentos dos salgueiros brotavam em flor, continuavam a avançar para norte.
Em cada semana era maior a urgência, pois a primavera alastrava cada vez mais depressa, pelas vastidões do norte.
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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Planeta-Mãe - 36
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É preciso lembrar que um estado não produz riqueza, apenas a taxa. Todo o dinheiro gasto por um estado foi retirado de algum lugar. Se não for sob a forma de impostos e taxas, directas ou indirectas, sobre as empresas ou os particulares, é sob a forma de crédito. Os orçamentos deficitários e as dívidas dos estados são despesas feitas antecipadamente, na esperança de dias melhores, quer dizer impostos melhores. Os déficits e as dívidas públicas são “impostos a haver” que nós deixamos aos nossos filhos, para assegurar o financiamento do nosso modelo económico e social actual. Para quem se sinta aborrecido por esta verdade abrupta, sugiro substituir a palavra “impostos” por “receitas fiscais”. É o termo utilizado nos discursos politicamente correctos, quer dizer “eleitoralmente aceitáveis”.
Assim, com os nossos impostos, nós financiamos a produção maciça de alimentos quimicamente poluídos; financiamos a poluição dos solos e dos lençóis freáticos; financiamos modos de produção que poucos de nós caucionam. Porque é mesmo o dinheiro dos contribuintes que permite aos agricultores pagar as exorbitantes facturas das sementes híbridas, dos adubos e dos produtos químicos. Os lucros das firmas agro-químicas decorrem em parte destes dinheiros públicos, não desempenhando os agricultores senão um papel intermediário na sua circulação.
Como todos os países que adoptaram estes métodos agrícolas intensivos, os americanos dispõem destes subsídios agrícolas. Sem este importante suporte financeiro dos estados aos agricultores, as multinacionais da agro-química não se teriam tornado as potências económicas que hoje são. Enquanto consumidor e contribuinte em simultâneo, como não se sentir na pele dum carneiro que se deixa tosquiar pacificamente?
Em França, a agricultura biológica representa menos de 8% das superfícies cultivadas. As subvenções que lhe são destinadas são nitidamente inferiores a 8% dos orçamentos. Esta agricultura não só não é encorajada, mas também é penalizada em relação ao modelo intensivo. Sabendo que estas técnicas necessitam de mais mão-de-obra, e que é preciso pagar os controles e certificações, quem irá admirar-se dos preços dos produtos bio?
Sem o apoio dos subsídios, os métodos agrícolas “modernos” já teriam falhado há muito tempo em todo o mundo. Há 40 anos que teriam sido postos em causa, pela simples razão de que não são rentáveis. (…)
É preciso lembrar que um estado não produz riqueza, apenas a taxa. Todo o dinheiro gasto por um estado foi retirado de algum lugar. Se não for sob a forma de impostos e taxas, directas ou indirectas, sobre as empresas ou os particulares, é sob a forma de crédito. Os orçamentos deficitários e as dívidas dos estados são despesas feitas antecipadamente, na esperança de dias melhores, quer dizer impostos melhores. Os déficits e as dívidas públicas são “impostos a haver” que nós deixamos aos nossos filhos, para assegurar o financiamento do nosso modelo económico e social actual. Para quem se sinta aborrecido por esta verdade abrupta, sugiro substituir a palavra “impostos” por “receitas fiscais”. É o termo utilizado nos discursos politicamente correctos, quer dizer “eleitoralmente aceitáveis”.
Assim, com os nossos impostos, nós financiamos a produção maciça de alimentos quimicamente poluídos; financiamos a poluição dos solos e dos lençóis freáticos; financiamos modos de produção que poucos de nós caucionam. Porque é mesmo o dinheiro dos contribuintes que permite aos agricultores pagar as exorbitantes facturas das sementes híbridas, dos adubos e dos produtos químicos. Os lucros das firmas agro-químicas decorrem em parte destes dinheiros públicos, não desempenhando os agricultores senão um papel intermediário na sua circulação.
Como todos os países que adoptaram estes métodos agrícolas intensivos, os americanos dispõem destes subsídios agrícolas. Sem este importante suporte financeiro dos estados aos agricultores, as multinacionais da agro-química não se teriam tornado as potências económicas que hoje são. Enquanto consumidor e contribuinte em simultâneo, como não se sentir na pele dum carneiro que se deixa tosquiar pacificamente?
Em França, a agricultura biológica representa menos de 8% das superfícies cultivadas. As subvenções que lhe são destinadas são nitidamente inferiores a 8% dos orçamentos. Esta agricultura não só não é encorajada, mas também é penalizada em relação ao modelo intensivo. Sabendo que estas técnicas necessitam de mais mão-de-obra, e que é preciso pagar os controles e certificações, quem irá admirar-se dos preços dos produtos bio?
Sem o apoio dos subsídios, os métodos agrícolas “modernos” já teriam falhado há muito tempo em todo o mundo. Há 40 anos que teriam sido postos em causa, pela simples razão de que não são rentáveis. (…)
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Hora do folhetim - 46
(...)
A sua intranquilidade tinha diminuído, agora contentavam-se com a espera. O instinto dizia-lhes que tinham ultrapassado todos os obstáculos. Os últimos cinco mil quilómetros até ao Árctico passavam pelas grandes planícies dos Estados Unidos e do Canadá, onde nem montes nem cordilheiras lhes dificultavam a rota, e onde havia alimento até ao exagero. Em caso de necessidade, poderiam fazer este trajecto até casa numa só semana. Por algum tempo sossegara-lhes o impulso migratório. Na melhor das hipóteses, a tundra só estaria pronta para a nidificação dentro de dois meses. Mas isso não o sabiam os maçaricões. Sabiam apenas que, neste começo da primavera, havia muitos insectos nas pradarias do Texas. E sentiam o desejo de ficar.
Esperaram três semanas, durante as quais avançaram menos de cento e cinquenta quilómetros para o interior. Quase todas as noites ouviam passar lá por cima os bandos das aves mais pequenas. Estas não nidificavam no Árctico, mas em reservas muito mais a sul, onde já era primavera. Quando chegasse o momento, os maçaricões fariam numa só noite o que a estas aves custava três.
(...)
A sua intranquilidade tinha diminuído, agora contentavam-se com a espera. O instinto dizia-lhes que tinham ultrapassado todos os obstáculos. Os últimos cinco mil quilómetros até ao Árctico passavam pelas grandes planícies dos Estados Unidos e do Canadá, onde nem montes nem cordilheiras lhes dificultavam a rota, e onde havia alimento até ao exagero. Em caso de necessidade, poderiam fazer este trajecto até casa numa só semana. Por algum tempo sossegara-lhes o impulso migratório. Na melhor das hipóteses, a tundra só estaria pronta para a nidificação dentro de dois meses. Mas isso não o sabiam os maçaricões. Sabiam apenas que, neste começo da primavera, havia muitos insectos nas pradarias do Texas. E sentiam o desejo de ficar.
Esperaram três semanas, durante as quais avançaram menos de cento e cinquenta quilómetros para o interior. Quase todas as noites ouviam passar lá por cima os bandos das aves mais pequenas. Estas não nidificavam no Árctico, mas em reservas muito mais a sul, onde já era primavera. Quando chegasse o momento, os maçaricões fariam numa só noite o que a estas aves custava três.
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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Planeta-Mãe - 35
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DA AUTONOMIA À DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA E FINANCEIRA
Os limites das novas práticas agrícolas intensivas foram rapidamente atingidos. O primeiro foi o económico: o sistema caiu na armadilha do seu próprio sucesso. Sujeitos às leis da oferta e da procura, os novos modos de produção agrícola, largamente excedentários no início, fizeram baixar os preços dos produtos alimentares. Os agricultores viram estagnar ou regredir os seus rendimentos, a despeito do aumento das colheitas. Um absurdo agrícola, uma verdade capitalista. Esta situação engendrou a política das quotas, dos pousios (jachères, set-aside), das indemnizações, dos armazenamentos em massa, e depois das reduções de stocks.
Esta queda dos preços caiu mal nos agricultores, fortemente endividados. Os tractores e as outras máquinas modernas custavam uma pequena fortuna. Tinham investido em terrenos, meios de irrigação, construções necessárias à industrialização da sua actividade, etc. Para os apoiar financeiramente, foram-lhes concedidos subsídios importantes. A nossa agricultura tornou-se a actividade mais subvencionada do país.
Os anos 50 e 60 foram os da emancipação da maior parte das colónias, a par da criação da OPEP. Criada em 1966, esta organização decidia em 1973 fixar os preços do petróleo extraído dos seus países. Para nós foi o “choque petrolífero”. Mas para estes países foi o símbolo duma libertação do imperialismo económico ocidental, e o regresso a uma certa soberania nacional. O mal de uns…
A sorte destes países produtores de petróleo não foi apenas o azar dos consumidores ocidentais; os agricultores foram duramente afectados. Os preços de todos os produtos necessários à sua actividade subiram, ao mesmo tempo que os combustíveis utilizados. (…)
Com os métodos de cultura modernos, são necessários entre 5 e 10 kilocalorias de energia/petróleo para produzir 3 kilocalorias de energia alimentar. Quando o valor da caloria alimentar baixa e a caloria/petróleo aumenta, os agricultores acumulam déficits.
Desde há 40 anos, a maior parte dos agricultores vivem mais de subsídios do que da venda dos produtos da sua produção. O primeiro orçamento da Europa serve para financiar a PAC (Política Agrícola Comum). Em 2005, o orçamento da PAC elevava-se a 116,5 biliões de Euros, ou seja, 43% dos créditos da Europa. No período de 2007 a 2013, o orçamento previsto da PAC é de 862,4 biliões de Euros. Este dinheiro vem da contribuição financeira de cada estado membro. E o dinheiro de cada estado membro vem dos impostos que eles retiram da economia.
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DA AUTONOMIA À DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA E FINANCEIRA
Os limites das novas práticas agrícolas intensivas foram rapidamente atingidos. O primeiro foi o económico: o sistema caiu na armadilha do seu próprio sucesso. Sujeitos às leis da oferta e da procura, os novos modos de produção agrícola, largamente excedentários no início, fizeram baixar os preços dos produtos alimentares. Os agricultores viram estagnar ou regredir os seus rendimentos, a despeito do aumento das colheitas. Um absurdo agrícola, uma verdade capitalista. Esta situação engendrou a política das quotas, dos pousios (jachères, set-aside), das indemnizações, dos armazenamentos em massa, e depois das reduções de stocks.
Esta queda dos preços caiu mal nos agricultores, fortemente endividados. Os tractores e as outras máquinas modernas custavam uma pequena fortuna. Tinham investido em terrenos, meios de irrigação, construções necessárias à industrialização da sua actividade, etc. Para os apoiar financeiramente, foram-lhes concedidos subsídios importantes. A nossa agricultura tornou-se a actividade mais subvencionada do país.
Os anos 50 e 60 foram os da emancipação da maior parte das colónias, a par da criação da OPEP. Criada em 1966, esta organização decidia em 1973 fixar os preços do petróleo extraído dos seus países. Para nós foi o “choque petrolífero”. Mas para estes países foi o símbolo duma libertação do imperialismo económico ocidental, e o regresso a uma certa soberania nacional. O mal de uns…
A sorte destes países produtores de petróleo não foi apenas o azar dos consumidores ocidentais; os agricultores foram duramente afectados. Os preços de todos os produtos necessários à sua actividade subiram, ao mesmo tempo que os combustíveis utilizados. (…)
Com os métodos de cultura modernos, são necessários entre 5 e 10 kilocalorias de energia/petróleo para produzir 3 kilocalorias de energia alimentar. Quando o valor da caloria alimentar baixa e a caloria/petróleo aumenta, os agricultores acumulam déficits.
Desde há 40 anos, a maior parte dos agricultores vivem mais de subsídios do que da venda dos produtos da sua produção. O primeiro orçamento da Europa serve para financiar a PAC (Política Agrícola Comum). Em 2005, o orçamento da PAC elevava-se a 116,5 biliões de Euros, ou seja, 43% dos créditos da Europa. No período de 2007 a 2013, o orçamento previsto da PAC é de 862,4 biliões de Euros. Este dinheiro vem da contribuição financeira de cada estado membro. E o dinheiro de cada estado membro vem dos impostos que eles retiram da economia.
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domingo, 6 de fevereiro de 2011
Hora do folhetim - 45
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Quatro ou cinco horas depois, os maçaricões tinham ultrapassado as aves mais pequenas e voavam sozinhos. De repente o ar tornou-se mais frio e pesado. As asas obtinham mais impulso, e o alísio de leste rodou para sul. Pequenos farrapos baixos escureceram por momentos a lua, nuvens pesadas e negras começaram a acastelar-se, a noite ficou escura e as águas do golfo despareceram lá em baixo, na treva. O vento rodou para leste, mas pouco depois virou de novo, soprando agora de norte com fortes rajadas. Os maçaricões rumaram para oeste, para o terem de lado. Então começou a chover copiosamente, como se uma parede de água se elevasse diante deles.
Depois da primeira bátega de água, o vento e a chuva amainaram um pouco, mas o mau tempo manteve-se durante cinco horas. Só ao nascer do sol é que atingiram céu calmo e transparente. Normalmente continuariam a voar em frente, sobre os charcos e os pântanos salgados da costa do Texas, para depois poisarem, um pouco mais além, nas aluviões das pradarias. Mas o temporal tinha-os esgotado. As rémiges encharcadas colavam-se umas às outras, e já não reagiam adequadamente aos movimentos dos músculos. Logo que alcançaram a costa, desceram sobre a praia, em voo planado.
Havia por baixo deles uma estreita ilha, com dunas de areia e manchas de relva, correndo paralela à costa, ao longo de quilómetros. Durante um ou dois minutos os seus olhos procuraram um lugar onde houvesse alimento. Na areia havia numerosas poças de água, provocadas pela chuva da noite. Bandos de narcejas, obrigadas a poisar pelo temporal, rodeavam estas poças, procurando comida ou alisando a plumagem. Os maçaricões sobrevoaram vários bandos de tarambolas e galinholas, sobre uma duna. Na sua frente havia charcos lamacentos, onde já se encontravam centenas de maçaricões-norte-americanos, que gritaram na sua direcção. Os dois maçaricões abriram as asas e poisaram no meio deles.
Mas só ali ficaram durante o dia. Ao cair da noite partiram sozinhos, e duas horas depois poisaram na pradaria enluarada, cento e cinquenta quilómetros para o interior.
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Quatro ou cinco horas depois, os maçaricões tinham ultrapassado as aves mais pequenas e voavam sozinhos. De repente o ar tornou-se mais frio e pesado. As asas obtinham mais impulso, e o alísio de leste rodou para sul. Pequenos farrapos baixos escureceram por momentos a lua, nuvens pesadas e negras começaram a acastelar-se, a noite ficou escura e as águas do golfo despareceram lá em baixo, na treva. O vento rodou para leste, mas pouco depois virou de novo, soprando agora de norte com fortes rajadas. Os maçaricões rumaram para oeste, para o terem de lado. Então começou a chover copiosamente, como se uma parede de água se elevasse diante deles.
Depois da primeira bátega de água, o vento e a chuva amainaram um pouco, mas o mau tempo manteve-se durante cinco horas. Só ao nascer do sol é que atingiram céu calmo e transparente. Normalmente continuariam a voar em frente, sobre os charcos e os pântanos salgados da costa do Texas, para depois poisarem, um pouco mais além, nas aluviões das pradarias. Mas o temporal tinha-os esgotado. As rémiges encharcadas colavam-se umas às outras, e já não reagiam adequadamente aos movimentos dos músculos. Logo que alcançaram a costa, desceram sobre a praia, em voo planado.
Havia por baixo deles uma estreita ilha, com dunas de areia e manchas de relva, correndo paralela à costa, ao longo de quilómetros. Durante um ou dois minutos os seus olhos procuraram um lugar onde houvesse alimento. Na areia havia numerosas poças de água, provocadas pela chuva da noite. Bandos de narcejas, obrigadas a poisar pelo temporal, rodeavam estas poças, procurando comida ou alisando a plumagem. Os maçaricões sobrevoaram vários bandos de tarambolas e galinholas, sobre uma duna. Na sua frente havia charcos lamacentos, onde já se encontravam centenas de maçaricões-norte-americanos, que gritaram na sua direcção. Os dois maçaricões abriram as asas e poisaram no meio deles.
Mas só ali ficaram durante o dia. Ao cair da noite partiram sozinhos, e duas horas depois poisaram na pradaria enluarada, cento e cinquenta quilómetros para o interior.
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sábado, 5 de fevereiro de 2011
Planeta-Mãe - 34
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LÓBI SINDICAL E PROPAGANDA
É neste contexto económico, político e legislativo que hoje se situa a actividade agrícola. As lutas de poder são à medida dos desafios. Quem é que ficaria surpreendido ao saber que o principal sindicato agrícola francês, o FNSEA, segue desde os anos 50 a doutrina das empresas da agro-química? Numa visita ao site da Internet da Monsanto França 2006, descobri a nova estratégia de marketing do grupo, respeitante aos OGM:
“Para fazer face à poluição dos solos e dos lençóis freáticos, devemos reduzir as pulverizações de produtos químicos; as biotecnologias são a solução para fazer face a este novo desafio do futuro. Cuidando das plantas pela genética, nós preservaremos o ambiente. Protegendo o nosso ambiente, é do Homem que cuidamos”.
Alguns dias depois li num jornal diário a entrevista dum agricultor membro da FNSEA. O seu discurso a favor dos OGM que tinha decidido cultivar eram quasi ipsis verbis o argumentário da Monsanto. Nos finais de 2007, no seguimento duma moratória temporária sobre os OGM, um outro agricultor declarava diante das câmaras da televisão: Pedem-nos para reduzir as pulverizações de pesticidas. Se ainda por cima nos proibirem os OGM, não nos safamos!
Este agricultor tem razão. Com os actuais métodos de cultura intensiva, a fuga em frente da química é inexorável. As doenças e os predadores são cada vez mais resistentes e virulentos. Com as monoculturas de híbridos frágeis, que se estendem a perder de vista, sob um clima que realmente não lhes é favorável, num solo que se torna estéril, são reais as ameaças sobre as culturas. Os agricultores vivem no medo do desastre, que pode ter a dimensão da sua área de cultura ou das suas obrigações financeiras. Mas os tratamentos químicos fazem-se preventivamente. Quando uma doença é detectada, muitas vezes já é tarde. Neste tipo de culturas tudo acontece muito depressa e em grande escala.
Tomados neste círculo vicioso, podemos compreender a confusão dos agricultores. A sua profissão tornou-se uma actividade industrial profundamente ligada à química, à energia, à mecânica, à tecnologia e à finança. Endividados, apanhados pelas exigências do mercado, estão sob pressão. E estão impregnados da lógica produtivista.
Nesta lógica, as regras da Natureza já não fazem lei. Já não se trata de servir a Natureza, para que ela nos dê o que esperamos, mas antes submetê-la, para lhe impor o que exigimos dela. (…)
LÓBI SINDICAL E PROPAGANDA
É neste contexto económico, político e legislativo que hoje se situa a actividade agrícola. As lutas de poder são à medida dos desafios. Quem é que ficaria surpreendido ao saber que o principal sindicato agrícola francês, o FNSEA, segue desde os anos 50 a doutrina das empresas da agro-química? Numa visita ao site da Internet da Monsanto França 2006, descobri a nova estratégia de marketing do grupo, respeitante aos OGM:
“Para fazer face à poluição dos solos e dos lençóis freáticos, devemos reduzir as pulverizações de produtos químicos; as biotecnologias são a solução para fazer face a este novo desafio do futuro. Cuidando das plantas pela genética, nós preservaremos o ambiente. Protegendo o nosso ambiente, é do Homem que cuidamos”.
Alguns dias depois li num jornal diário a entrevista dum agricultor membro da FNSEA. O seu discurso a favor dos OGM que tinha decidido cultivar eram quasi ipsis verbis o argumentário da Monsanto. Nos finais de 2007, no seguimento duma moratória temporária sobre os OGM, um outro agricultor declarava diante das câmaras da televisão: Pedem-nos para reduzir as pulverizações de pesticidas. Se ainda por cima nos proibirem os OGM, não nos safamos!
Este agricultor tem razão. Com os actuais métodos de cultura intensiva, a fuga em frente da química é inexorável. As doenças e os predadores são cada vez mais resistentes e virulentos. Com as monoculturas de híbridos frágeis, que se estendem a perder de vista, sob um clima que realmente não lhes é favorável, num solo que se torna estéril, são reais as ameaças sobre as culturas. Os agricultores vivem no medo do desastre, que pode ter a dimensão da sua área de cultura ou das suas obrigações financeiras. Mas os tratamentos químicos fazem-se preventivamente. Quando uma doença é detectada, muitas vezes já é tarde. Neste tipo de culturas tudo acontece muito depressa e em grande escala.
Tomados neste círculo vicioso, podemos compreender a confusão dos agricultores. A sua profissão tornou-se uma actividade industrial profundamente ligada à química, à energia, à mecânica, à tecnologia e à finança. Endividados, apanhados pelas exigências do mercado, estão sob pressão. E estão impregnados da lógica produtivista.
Nesta lógica, as regras da Natureza já não fazem lei. Já não se trata de servir a Natureza, para que ela nos dê o que esperamos, mas antes submetê-la, para lhe impor o que exigimos dela. (…)
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