sábado, 5 de fevereiro de 2011

Planeta-Mãe - 34

(...)
LÓBI SINDICAL E PROPAGANDA
É neste contexto económico, político e legislativo que hoje se situa a actividade agrícola. As lutas de poder são à medida dos desafios. Quem é que ficaria surpreendido ao saber que o principal sindicato agrícola francês, o FNSEA, segue desde os anos 50 a doutrina das empresas da agro-química? Numa visita ao site da Internet da Monsanto França 2006, descobri a nova estratégia de marketing do grupo, respeitante aos OGM:
Para fazer face à poluição dos solos e dos lençóis freáticos, devemos reduzir as pulverizações de produtos químicos; as biotecnologias são a solução para fazer face a este novo desafio do futuro. Cuidando das plantas pela genética, nós preservaremos o ambiente. Protegendo o nosso ambiente, é do Homem que cuidamos”.
Alguns dias depois li num jornal diário a entrevista dum agricultor membro da FNSEA. O seu discurso a favor dos OGM que tinha decidido cultivar eram quasi ipsis verbis o argumentário da Monsanto. Nos finais de 2007, no seguimento duma moratória temporária sobre os OGM, um outro agricultor declarava diante das câmaras da televisão: Pedem-nos para reduzir as pulverizações de pesticidas. Se ainda por cima nos proibirem os OGM, não nos safamos!
Este agricultor tem razão. Com os actuais métodos de cultura intensiva, a fuga em frente da química é inexorável. As doenças e os predadores são cada vez mais resistentes e virulentos. Com as monoculturas de híbridos frágeis, que se estendem a perder de vista, sob um clima que realmente não lhes é favorável, num solo que se torna estéril, são reais as ameaças sobre as culturas. Os agricultores vivem no medo do desastre, que pode ter a dimensão da sua área de cultura ou das suas obrigações financeiras. Mas os tratamentos químicos fazem-se preventivamente. Quando uma doença é detectada, muitas vezes já é tarde. Neste tipo de culturas tudo acontece muito depressa e em grande escala.
Tomados neste círculo vicioso, podemos compreender a confusão dos agricultores. A sua profissão tornou-se uma actividade industrial profundamente ligada à química, à energia, à mecânica, à tecnologia e à finança. Endividados, apanhados pelas exigências do mercado, estão sob pressão. E estão impregnados da lógica produtivista.
Nesta lógica, as regras da Natureza já não fazem lei. Já não se trata de servir a Natureza, para que ela nos dê o que esperamos, mas antes submetê-la, para lhe impor o que exigimos dela. (…)

Sem comentários:

Enviar um comentário